29.4.24

SPY × FAMILY CODE: White

SPY × FAMILY é mais uma daquelas séries anime que descobri através do cosplay. Achei o design muito apelativo e algo no tema da espionagem despertou a minha curiosidade. Mas como a lista de séries a terminar de ver e a ver é longa, não pensei mais no assunto.

Mas eis que o filme SPY × FAMILY CODE: White caiu-me no colo para traduzir. Para entrar no contexto rapidamente, em vez de ver a série, li o primeiro volume da manga e gostei bastante. Mas nem era necessário, pois o filme faz uma introdução sucinta às personagens principais, as suas motivações e a missão.

O filme é muito divertido! Mas eu sou suspeita, sempre gostei de filmes de espionagem e identifiquei rapidamente as referências a James Bond (o cão chama-se Bond - entre outras), à Guerra Fria e às duas Alemanhas. Gostei disso. Também é comédia e eu adoro anime de comédia, que nem sempre é compreendida no ocidente.

As família Forger é uma delícia! Loid (que se fosse eu tinha transcrito para caracteres romanos como Lloyd) é profissional e sério, mas com o avançar da história começa a derreter-se com a sua família falsa. Yor é deliciosamente ingénua e bem-educada para uma assassina que prefere armas brancas a armas de fogo. Anya é a grande catalisadora de tudo o que acontece, pelo menos no filme, e a protagonista que faz avançar a narrativa. A sua personalidade é infantil mas muito esperta e a única que conhece a verdadeira identidade dos "pais", graças ao seu poder telepático. Bond é um São Bernardo fofinho e o grande companheiro de Anya, que é a única que o compreende.

O filme funciona como um episódio especial para cinema, onde Loid tem uma missão dentro da missão (Stryx) que envolve toda a família e os leva num fim-de-semana de férias à neve. Em Frigis encontramos uma vila simpática em estilo germânico, com direito a um Mercado de Natal e tudo! Há neve, dirigíveis, vilões militares de cara feia, com nomes eslavos e agendas dúbias, cenas de acção espectaculares e culinária refinada. Que mais poderíamos desejar?

O estilo gráfico, que inicialmente me chamou - tenho de declarar que o fato de assassina de Yor favorece todo o tipo de corpos, o que explica a sua popularidade no cosplay (para além de ser uma mulher badass) - é muito bonito e ganha imenso com os excelentes valores de produção actuais. A animação é sem mácula e não é muito fácil distinguir a animação 3D (às vezes topa-se, mas é preciso estar atento), as expressões e cenas oníricas de Anya, a cereja no topo do bolo, ou será do meremere? A narrativa é muito engraçada,  bem preenchida e rocambolesca q.b. para nos deixar agarrados ao ecrã duas horas sem pestanejar. Como já disse, apesar de funcionar como um episódio especial, é suficientemente autónomo para não ser forçosamente necessário ver a série para perceber o contexto e as personagens, a exposição é curta mas bem feita e não sai forçada. 

Foi muito divertido traduzir este filme, adorei brincar com as palavras e perceber que o vocabulário escatológico japonês é tão variado como o português! Não conto mais, não quero fazer spoilers, mas, quando virem o filme, fiquem até ao fim, 90% das pessoas na antestreia perdeu a cena final...

"Vai para o inferno, bebé!"

Agora, quando terminar a outra série que comecei ontem (é longa), é ver a série SPY × FAMILY e ler a manga.

SPY × FAMILY CODE: White

NOS Colombo (antestreia)

27.4.24

Terminei de ver: Hana no Ko Lunlun

Como a própria Lunlun diz no penúltimo episódio: "Esta viagem toda foi inútil."
[SPOILERS!]
Ela refere-se ao facto de a Flor-do-Arco-Íris estar o tempo todo na terra dela. O avô responde que é o resultado de todas as experiências que viveu e de todas as pessoas que conheceu, mas eu estou com ela, os únicos episódios que vale realmente a pena ver em Hana no Ko Lunlun são o primeiro, o último e o penúltimo. Isto em termos narrativos.

Não me interpretem mal, Hana no Ko Lunlun é um mahou shoujo muito bem produzido, com um character design fofinho, boa animação, uma boa pesquisa sobre flores, apesar de de vez em quando incluírem flores demasiado exóticas para a Europa, e uma excelente répèrage de locais pela Europa fora, com uma pitada de Norte de África. Mas os argumentistas limitaram-se a escrever os episódios-chave, o primeiro, o episódio 24 e o penúltimo e último, onde realmente acontece alguma coisa a Lunlun e companhia, e deram os restantes 46 episódios aos estagiários. Se os primeiros 24 episódios se vêm bem, em parte pela novidade, os restantes 26 arrastam-se em mais do mesmo e devo ter levado o dobro do tempo a vê-los. Mas tenho a certeza que Hana no Ko Lunlun fez imenso dinheiro em merchandising, pois ainda se encontra actualmente bastante pelas internetes.

Resumindo, Hana no Ko Lunlun é um mahou shoujo simpático, bonitinho, mas muito fraquinho. Só recomendo a quem, como eu, goste muito de mahou shoujos e os queira ver todos. Dos que já vi, este só não foi o pior por que existe Wedding Peach e outros mahou shoujos dos anos 90 muito maus, mas Lunlun é um teste à perseverança, é daquelas séries anime que se despachava com 12 ou 13 episódios.

Já me esquecia, fica aqui o link para a folha excel com as localidades, flores e significados de cada episódio:




23.3.24

Ando a ver: Hana no Ko Lunlun


A meio da série, concretamente ao episódio 24, a flor-chave mágica de Lunlun leva um upgrade, passa de uma margarida simples, com cinco pétalas, para uma flor anónima tipo malmequer, cor-de-rosa e com mais pétalas. Os poderes também levam um upgrade, para além de transformar a roupa de Lunlun no que ela desejar, dá-lhe capacidades técnicas associadas ao traje escolhido. Com isto, Lunlun passa a encarnar mais profissões úteis, alpinista, piloto, etc., que na primeira metade da série. Mas o upgrade vem com um senão, tem um tempo útil relativamente curto e no talo tem uma bolinha que serve de interruptor e a avisa quando o tempo está prestes a esgotar-se.

Também foi mais ou menos a meio que Hana no Ko Lunlun começou a aborrecer-me. As histórias de cada episódio são sempre muito parecidas, alguém que é egoísta ou age de forma menos própria, cruza-se com Lunlun e redime-se com a ajuda dela. O arco de Lunlun pouco se tem desenvolvido, as histórias, para além de repetitivas, são pouco empolgantes, embora incluam actos empolgantes, como escalar uma montanha, andar num dirigível, ou encontrar um cientista louco. Togenishia e Yabouki são vilões muito fracos e, se objectivo deles é ficar com a flor arco-íris, muitas vezes as suas acções são mais prejudiciais à busca de Lunlun que o contrário. A eventual relação amorosa entre Lunlun e Serge, que aparece sempre no fim para ajudar, qual Tuxedo Kamen, também não desenvolve e só há um ou dois episódios em que ambos realmente convivem até agora. A única coisa interessante que fica são os locais visitados, a maioria reais, mas muitas vezes genéricos, estilo Sul de França, Zona dos Lagos, campo, etc., muito provavelmente para encher chouriços. Às vezes os locais existem, como o castelo Neuschwanstein, na Alemanha, mas não são identificados como tal, para fins narrativos. No caso de Neuschwanstein, a história passa-se dentro do castelo, que é habitado pelas pessoas que interagem com Lunlun no episódio. Nos anos 70 acho que o castelo já não era habitado, não tenho a certeza se já era um museu visitável, como actualmente. Outra coisa interessante que ficou são as flores e os seus significados no final de cada episódio. 

Tenho registado numa folha Excel cada localidade e flor, por episódio, o que me tem levado a pesquisas engraçadas, por vezes morosas, pelas internetes, a maioria das vezes na Wikipedia, mas também no Google Maps e muitos sites de botânica, para saber o respectivo nome em português. Como seria de prever, muitas flores são mais nativas da Ásia que da Europa (onde se passa a série até agora - acho que vamos ter o Norte de África, pelos títulos) e por vezes tem flores que nem sequer existem na Europa. Mas a maioria cresce na Europa, mesmo que não seja autóctone. Muitas têm nome português porque crescem nas ilhas dos Açores ou Madeira.

Já só me faltam cerca de 15 episódios para terminar e ando a ver 2 de cada vez ao fim de semana para despachar o assunto. Apesar de Lunlun introduzir vários elementos-chave do mahou shoujo, o item que transforma o aspecto, a viagem por uma Europa mais ou menos romântica, não é uma das melhores séries anime de mahou shoujo, o que é uma pena, pois o character design e a produção artística em geral é bastante boa. Mas falo um pouco mais disso no meu post final.




12.2.24

Comecei a ver: Hana no Ko Lunlun

Andava mesmo com desejos de um mahou shoujo old school, pelo que decidi finalmente ver Hana no Ko Lunlun. Este anime passou, se não me engano, há bastantes anos na RTP 2, mas só apanhei um ou dois episódios e, como queria ver a série completa, do princípio ao fim, não insisti em ver.

Bom, fiquei um bocado decepcionada, pois Hana no Ko Lunlun é basicamente uma versão reciclada do meu mahou shoujo preferido, Majokko Meg-chan, mas sem o atrevimento e alguma da gravidade. A única grande diferença é que ela viaja por uma Europa real, enquanto que Meg vive num Japão europeizado, e há um love interest, Serge. Mas o resto, a rival Togenishia, o capanga trapalhão, neste caso um Tanuki, o cão estilo São Bernardo, a gata pespineta, são todos elementos em comum com Meg-chan. Até a premissa é semelhante: Lunlun percorre a Europa em busca da Flor Arco-Íris, para salvar o Reino das Flores e o seu herdeiro, que é óbvio que é Serge, um rapaz que faz o mesmo percurso de Lunlun e a ajuda ocasionalmente. Em Meg-chan, Meg e Non são candidatas ao trono do Reino da Magia e vêm para a Terra aprender acerca dos humanos.

Mas, fora esta reciclagem que infelizmente era bastante comum nos anos 70, Lunlun, apesar de menina boazinha, consegue ser uma personagem interessante e com agência e os acontecimentos com que se depara raramente são bonzinhos. Ela depara-se com muitos defeitos da humanidade, como o egoísmo e a ganância e nem sempre os percalços que lhe acontecem são provocados por Togenishia.

A produção é bastante boa, com um character design consistente e boa animação. Em cada episódio temos uma "transformação" de Lunlun, que, neste caso, o faz através de uma chave-flor que, apontando a uma flor, lhe transforma a roupa no traje necessário para ajudar a resolver algum obstáculo que se lhe tenha deparado. A fórmula também passa por, no final de cada episódio, onde Serge aborda as pessoas que se cruzaram com Lunlun e oferece-lhes sementes de uma flor. Essa flor e o seu significado são apontados no final de cada episódio, o que me tem servido para aprender o nome das flores em japonês. Mas como são flores europeias e, até agora, flores do Sul da Europa, têm quase todas nomes em inglês (katakana) e é fácil encontrar o seu equivalente português.

O que se segue é previsível, Lunlun e Serge irão aproximar-se, mas por alguma razão não podem ficar juntos, Togenishia irá tentar travar Lunlun, as ligações entre os três serão explicadas. Mas as viagens de Lunlun têm sido até agora o mais interessante e tenho a certeza que foram uma grande inspiração para as viagens de Ashita no Nadja. Enquanto Nadja inicia o seu percurso em Inglaterra, Lunlun inicia o seu no Sul de França, segue para Sul pela costa mediterrânica, e, ao episódio 12, o último que vi, ela está em Espanha, mais concretamente na Andaluzia. Como gosto de fazer listas, estou a fazer uma lista dos locais onde Lunlun pára em cada episódio e as respectivas flores. A ver se no final faço um mapa, como fiz nos anos 80 para as Misteriosas Cidades do Ouro (Taiyo no Ko Esteban). Ainda o devo ter algures cá por casa.

Infelizmente tive de interromper o visionamento da série, pois o meu PC resolveu ficar doente, mas quando o recuperar, volto à carga.

花の子ルンルン - 作品ラインナップ - 東映アニメーション



28.1.24

Sukeban Deka

Sukeban Deka é mais um anime que teve uma série de falsas partidas comigo. Até parece parvo, pois são apenas 2 OAVs de 45 minutos, não é propriamente uma série que faça sentido ter sido interrompida tantas vezes. A primeira foi no final dos anos 90, em 98 ou 99, ainda em VHS. Tenho ideia de a K7 ser inclusive uma edição oficial, lembro-me da caixa em cartolina com a capa abaixo. Já não me lembro da origem dessa K7, alguém do meu círculo de pessoas que consumia anime na altura a terá arranjado. Lembro-me de ver parte do primeiro episódio, mas não me lembro de o ver até ao fim, e definitivamente não vi o segundo. Terei adormecido?

Depois arranjei os episódios online e mais uma vez comecei a ver o primeiro episódio, mas só me lembro de ver os primeiros 10, 15 minutos. Por algum motivo misterioso não vi o episódio completo e, mais uma vez, nem sequer peguei no segundo.

Capa do VHS americano(?)

Bom, foi desta. Sempre fui fã das sukeban, desde que soube da sua existência, raparigas delinquentes que surgiram nos anos 60 no Japão urbano, com um dress code específico, normalmente com uniforme escolar de marujo, onde as saias de pregas são mais compridas que o habitual, cabelos pintados, emblemas, etc. Podem ver-se a montar ou scooters ou bicicletas chopper e a fumar. Cometiam pequenas transgressões, como fumar, pequenos furtos, etc. Por isso, apesar de não haver muito acesso a média com e sobre as sukeban no Ocidente, sempre quis ver o pouco que havia, como o filme Kamikaze Girls, onde uma das protagonistas é uma sukeban, por oposição a uma lolita. Ou mesmo as Saitama Crimson Scorpions, em Shin-chan.

Saitama Crimson Scorpions & Shin-chan

Mas vamos a Sukeban Deka. Saki Asamiya é uma delinquente juvenil presa num reformatório, que é chantageada para tornar-se numa detective juvenil e investigar uma série de situações problemáticas na sua antiga escola. Ela acaba por combater as irmãs Mizuchi, envolvidas, junto com o pai, numa rede de corrupção. Pelo caminho Saki faz amigos e passa a encarar a sua nova actividade de detective com outros olhos. Os OAVs terminam aqui, mas a manga continua. Já li a manga até ao ponto em que ficou o anime, por isso algumas comparações fazem sentido, até porque há um intervalo de quase 20 anos entre ambas. A manga é, como habitual, mais detalhada e mais séria, mas os pontos-chave são os mesmos, mesmo quando o anime não resiste em ter momentos de nudez e violência sexual gratuitos, muito populares naquela época de Urotsukidojis e afins. No aspecto da violência em geral, nenhum se coíbe de a mostrar, havendo algum sangue e bastantes mortes.
Saki é uma personagem traumatizada, muito rica e valente, na verdade perfeita para o papel de detective juvenil. As irmãs Mizuchi são cada uma mais perversa que a outra, sendo a mais nova uma falsificadora, a do meio líder de um gangue e muito ganaciosa por dinheiro e a mais velha a traidora que aniquila a própria família. As três são associadas a víboras que inclusive usam como armas. Certas situações são tratadas de modo bastante sério, mas no geral é tudo um bocado empolado.

Esteticamente este anime é perfeito, inclui todos os clichés associados à corrupção no Japão, um político rico e corrupto, uma vilã hiperfeminina, com longos cabelos louros, outra com aspecto tradicional japonês, incluindo cabelos negros e hime-cut (franja e cabelo comprido, com o cabelo em redor da franja cortado pelo queixo, corte popular na era Heian), e a terceira com um aspecto moderno, disfarçada de artista, incluindo a clássica boina à francesa. Saki tem cabelo comprido rosa, dando provavelmente início a uma série de protagonistas fortes e maria-rapaz de cabelo rosa, sendo claramente inspiração directa para Utena. Ela usa o clássico serafuku, uniforme de marujo, mas com algumas peças proibidas nas escolas, como a camisola de gola alta vermelha. A sua arma é um iô-iô quitado pela polícia. Os polícias variam entre o também clássico homem de meia-idade enigmático de óculos escuros e o tipo moderno, de cabelos compridos e roupa estilosa, o mais seventies possível.
A animação é bastante boa, normalmente havia um maior investimento nos OAVs e as personagens não contrastam com os cenários, que é uma daquelas coisas que nunca gostei muito nos animes dos anos 80 ou 90. Nos anos 60 ou 70 havia uma preocupação maior de integrar as personagens nos cenários, mesmo quando o resultado não funcionava. O character design é bonitinho, e consegue ser bastante coerente, mantendo as raparigas um aspecto feminino, ao contrário das séries OAV de Ace o Nerae!, mais ou menos da mesma época, onde as raparigas parecem armários, até a Ochoufujin. As cenas de acção são particularmente bem feitas e uma pessoa não se perde na salganhada gráfica. A história é simples mas interessante, sem grandes buracos ou inconsistências e é bom ver o arco de redenção de Saki a desenvolver-se. Há muita coisa mal explicada ou sem explicação de todo, mas lendo a manga é possível preencher essas lacunas.

Gostei bastante destes OAVs, mesmo descartando a nudez gratuita, que são uma adaptação muito consistente e fiel à manga original. Agora sou capaz de ver algumas das adaptações para dorama, há várias, mas depois de tanta gravidade, no ténis, nas idols, nas escolas secundárias, acho que quero um mahou shoujo para limpar o palato! E até acho que sei o que vou ver!




26.1.24

Oshi no Ko

Neste alternar entre séries que ficaram penduradas e outras novas que, por alguma razão me chamaram a atenção (normalmente é o cosplay), fui parar a Oshi no Ko, pensando que seria bom algo levezinho, sobre idols, depois da gravidade e esforço do ténis.

O choque que foi o primeiro episódio! Para começar, tem cerca de 45 minutos, em vez dos habituais 25. Os seguintes voltam ao formato tradicional. Depois, Oshi no Ko é tudo menos levezinha, mas não é de todo decepcionante. Este anime é um thriller disfarçado de fofinho, aliás, é um seinen, anime para rapazes mais velhos. Eu bem digo que o shoujo infelizmente está em decadência meteórica, para um seinen ir buscar temáticas shoujo e dar-lhes a volta. Mas como há muito que não via um anime assim e o primeiro episódio revelou-se muito bem feito, fiquei muito curiosa.

Cheguei lá através do cosplay, mas antes disso já tinha apanhado profusamente com a canção do genérico. Para além de meio mundo e mais alguém ir buscar a canção para ilustrar posts nas redes sociais, ela é bastante irritante para os meus ouvidos pouco vocacionados para o J-pop. Ainda por cima viveu na minha cabeça sem pagar por uns dias... Mas, sendo o tema principal da série a indústria do entretenimento japonesa, só faz sentido ter temas J-pop a acompanhar. De notar que "Idol", apesar de estridente e um exemplo clássico do J-pop, não é uma canção nada fácil de cantar, para além da letra muito rápida, tem harmonias difíceis, sobretudo para a voz. Esta canção é um primeiro exemplo do quão dura é a vida de uma idol no Japão, um dos temas desta série. 

Outra das coisas que me chamou a atenção para Oshi no Ko foi a produção artística. Começando pela paleta de cores, cheia de rosas, amarelos, turquesas, como convém a qualquer anime com idols, mas em tons bem mais escuros que o habitual (devia ter prestado atenção, é um sinal de que não se trata de um shoujo fofinho), a suposta protagonista tem o cabelo azul escuro, cor normalmente associada às anti heroínas ou rivais, ou marias-rapazes, não às protagonistas, cor que me agrada, e os olhos com brilho de estrelas. A qualidade e nível de detalhe do character design também me surpreendeu, e, tal como a animação é de uma qualidade e coerência muito boas.

Acho que vou levar imenso tempo a habituar-me que houve um salto qualitativo nos valores de produção no anime, muito graças à introdução da pintura e acabamentos por computador, que poupam tempo e elevam a qualidade e coerência. Os computadores permitem a adição mais fácil de padrões e texturas, como por exemplo os olhos ou cabelos em Oshi no Ko.

Infelizmente esta primeira temporada, sim, primeira porque TEM DE HAVER uma continuação, não chega a conclusão nenhuma, apenas acompanha o primeiro sucesso da banda B-Komachi (parte 2), a banda de Ruby, filha secreta de Ai, e irmã gémea de Aqua, o protagonista da história. É verdade que Oshi no Ko só tem 11 episódios, portanto estabelece os protagonistas, os segredos e mistérios, o objectivo (sinistro) de Aqua, mas nem sequer sugere algum tipo de resolução. Portanto tenho de esperar, mas já foi anunciada a segunda temporada.

Gostei bastante desta série, foi uma surpresa, é muito bem produzida, cada episódio está bem estruturado e não há momentos para encher. Sim, terminou num impasse, quero saber o que vai acontecer a Ruby e Aqua, à explicação das suas vidas passadas, mas também às outras personagens que entretanto se juntaram aos gémeos. Espero que se mantenha a sensação de inquietude, de que nem tudo é o que parece que premeia a série, mas também espero por uma resolução convincente. 

【推しの子】



20.1.24

Shin Ultraman

O único filme que vi o ano passado no Indie Lisboa foi o menos provável dentro da programação do festival: Shin Ultraman. Não é comum o Indie Lisboa programar franchises de ficção científica de estúdio, sim, porque a Toho é uns dos maiores estúdios de cinema no Japão, mesmo sendo elas uma repescagem moderna de um formato muito popular outrora, como este Ultraman que, para todos os efeitos, tecnicamente não é um filme independente. 

Quando vi que o mais recente Ultraman iria ser exibido em Portugal, teve inclusive duas sessões, arranjei tempo para ir vê-lo, o que calhou também no último dia do festival. Só estou a fazer este post agora pelas mesmas razões que não fui ver mais nada no Indie de 2023: falta de disponibilidade.

Por vezes estas versões modernas de tokusatsus sofrem dos mesmos problemas dos reboots norte-americanos, excesso de modernização, excesso de polimento ou de sujidade. No entanto, este Shin Ultraman faz uma bela homenagem aos originais de baixo orçamento dos anos 60, mesmo quando a figura do Ultraman é recriada em 3D, mantém o aspecto de homem dentro do fato de borracha que dá o charme aos tokusatsus. Não queremos tokusatsus todos quitados, cheios de CGI, e cenários e humanos hiperrealistas. Queremos sim ver os fatos de borracha, os efeitos simples, explosões de napalm e seres gigantes a destruir o cenário em narrativas simples com um toque militarista. Os tokusatsu, kaiju e supersentai são produto da era pós nuclear e da guerra fria, tal como o James Bond, e foram construídos sobre o engenho dos técnicos e criativos dos estúdios japoneses dos anos 50, 60 e 70, com o propósito de entreter as massas sem se levarem demasiado a sério, mas sempre a passar uma mensagem ecológica e pacifista.

Dentro dos muitos que surgiram, Ultraman foi o primeiro que conheci, através das adaptações para comics norte-americanos, e ainda é o meu preferido. A ideia de um alien que encarna num ser humano e se transforma num gigante muito gigante, para defender a Terra das ameaças extraterrestres, que às vezes são mais terrestres que os humanos (é frequente estarem dormentes debaixo da crosta terrestre ou do oceano, como a Godzilla), sem uma agenda política é, no mínimo, brilhante. A sua incompatibilidade com a sociedade rígida japonesa é uma critica social velada muito interessante.

Shin Ultraman consegue marcar todas estas caixinhas e fazê-lo muitíssimo bem, actualizando mas preservando o estilo dos filmes e séries do séc. XX. A narrativa não difere muito das anteriores, mas o filme está muito bem construído, os actores são convincentes, mesmo para um público ocidental pouco habituado a certos maneirismos nipónicos. O filme é tecnicamente impecável, não cedendo a uma estética moderna. A suspensão da descrença é convincente e não questionamos nunca a estética retro. Isso está bem suportado pelas decisões visuais do grupo de humanos, simples, estilizados, mas realistas, e o grupo paramilitar, os cientistas e a tecnologia são verosímeis q.b. que quando surgem seja o monstro, seja o Ultraman, encaixam nesse universo, que faz a ligação ao espectador. Isto é, os únicos elementos exóticos, são os elementos extraterrestres. Mas este filme tem a mãozinha de Hideaki Anno, o criador do anime Evangelion, que bebe em grande parte das mesmas águas que os tokusatsus.

Por outro lado, a realização é sólida, empolgante, o que resulta num filme divertido que não se fica por agradar ao fã de tokusatsus, mas creio que consegue chegar ao espectador fã de ficção científica médio, com baixa tolerância a monstros em fatos de borracha.

O curioso disto tudo é que o formato kaiju, tokusatsu e supersentai é tão popular no Japão, que nunca deixou de ser produzido e tem evoluído, mantendo as suas características principais. Os filmes modernos tokusatsu já incluem modelação e animação 3D, efeitos visuais em computador, mas mantém a estética retro, a maioria das vezes sem exageros disparatados. Excepto os filmes da Sushi Typhoon, que só recomendo a quem tem tolerância a monstros em fatos de borracha e narrativas completamente surreais e disparatadas.

Termino com uma foto do meu único item de Ultraman, uma luz de presença, que me foi oferecida, vintage, mas provavelmente não oficial, não tem as clássicas marcas de (C). Infelizmente está avariada, a lâmpada original não sobreviveu, gostava de substituí-la por um LED e poder voltar a utilizá-la.

『映画 • 新ウルトラマン』

Indie Lisboa 2023


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