Tenho pouquíssima experiência em ver doramas japoneses, a grande maioria que vi até agora eram sentais, as séries vulgarmente conhecidas como Power Rangers, e Pretty Guardian Sailormoon, que era quase um sentai. Neste estilo de séries, a sensação de artificialismo é notória e faz parte, portanto é complicado separar delas uma boa realização ou uma boa performance de um actor, sendo o seu único termo de comparação elas próprias.
Ace o Nerae! tem um formato mais comum, de série de televisão e portanto uma qualidade acima da média se formos comparar com os sentais. É adaptado de uma manga e anime, mas do género desportivo, isto é, muito contextualizado numa realidade banal. Com isto tudo e comparando com outras séries de televisão (independentemente da nacionalidade ou género), achei a série, narrativamente, muitíssimo bem estrturada.
Como disse no meu primeiro post sobre a série, cada episódio representa uma viragem na vida da protagonista, Hiromi Oka, todas as personagens estão muito bem definidas e claramente caracterizadas. Cada episódio é coerente sobre si, não deixando pontas soltas, fechando a cada um, um capítulo. As actrizes e actores têm performances sólidas, com destaque, pela positiva para Matsumoto Rio (Ochoufujin) que até é convincente a jogar ténis mantendo o penteado e a roupa impecáveis a toda a hora. Pela negativa talvez Sakai Ayana, não me convenceu como Midorikawa Ranko, deveria ser mais dura e máscula, e menos menina. Ranko é, talvez, das personagens mais perturbadas da série, tendo uma relação bem dúbia com o meio-irmão. Nesta versão isso foi pouco utilizado, ficando a relação de ambos suavizada a uma relação comum de irmãos com uma difeença grande de idades.
Quem perceba de ténis (não é o meu caso, apenas dou umas raquetadas), pode achar que, principalmente as raparigas, são pouco convincentes a jogar. Mas acho que isso está mais no modo como elas se mexem, como já disse Matsumoto Rio convence, e como são filmadas que com o facto de saberem jogar ténis. Penso que houve uma certa preocupação em não as mostrar demasiado profissionais e manter certos maneirismos femininos muito japoneses, tais como certos gestos com as mãos, o modo como Hiromi cai ou, até ao final da série, Hiromi continuar a meter os pés e joelhos para dentro, como qualquer adolescente japonesa. Talvez seja o meu olhar ocidental a falar mais alto, mas também estou a ser demasiado picuinhas.
A história é uma boa história de amadurecimento e manteve-se semelhante à primeira fase do anime, resumindo a fase profissional da carreira de Hiromi a uma conclusão. A meio do último episódio estava com medo de como resolveriam o final, principalmente após a morte de Jin, mas, ao contrário do que costuma ser mais comum, a elipse de tempo está bem feita (até Aya Ueto parece mais adulta) e não temos a sensação de que a acção acelerou para enfiar lá a informação toda no final. Só a tímida e desajeitada relação amorosa entre Hiromi e Todou me faz uma certa confusão, mas é uma abordagem demasiado japonesa para olhos habituados casais televisivos/cinematográficos norte-americanos ou brasileiros, onde as pessoas se tocam e trocam intimidades com outro à vontade e frequência.
Ace o Nerae! foi uma boa primeira abordagem à ficção televisiva japonesa, deu para perceber que aqueles senhores (e senhoras) sabem muito bem o que andam a fazer, não brincam em serviço e são tudo menos verdes na matéria. Há realmente algum desfasamento cultural e sociológico, mas o resultado final superou as minhas expectativas.
Ace o Nerae! - TV Asahi (1)
Ace o Nerae! - TV Asahi (2)
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