5.6.08

Ando a ver: Oniisama E...

Definitivamente há raparigas apaixonadas por raparigas neste anime! Mas é tudo muito contido, num ambiente exacerbadamente feminino, onde o convívio com rapazes (ou homens) é visto com maus olhos. Não consigo olhar para este anime como uma manifestação homoerótica no feminino, mas sim um despertar da sexualidade e amadurecimento das personagens em que as relações, de amizade ou amorosas, entre o mesmo sexo são aceites como parte integrante deste microcosmos, enquanto que relações entre o sexo oposto são alvo de escândalo e mexerico. O engraçado nisto tudo é que as duas ingénuas apaixonadas, a protagonista Nanako e a nova e franca amiga Mariko, se interessam pelas duas raparigas mais másculas ou maria-rapaz do microcosmos do Colégio Seiran, Saint-Juste e Kaoru-no-Kimi.

Não há dúvida que se trata de uma perspectiva estranha numa visão ocidental e heterosexual da sexualidade, mas também me parece que toda esta simbologia e intensidade de relações fazem parte de um universo exclusivamente feminino, para ser usufruido em privado. Esta história também vai buscar muito a um gosto antigo das japonesas por homens andróginos e/ou efeminados que personificam um ideal romântico. A dada altura Mariko refere-se aos homens como sujos e brutos, numa clara recusa dos homens másculos e guerreiros, que dificilmente partilham este universo tão feminino.

Não sou de todo especialista em sociologia ou mesmo antropologia, mas este é um anime que dá muito para pensar em relação ao modo como os japoneses, mais concretamente as mulheres japonesas, vivem a sexualidade e o seu papel em relações românticas idealistas. Não será por acaso que a companhia exclusivamente feminina Takarazuka Revue (que encena dramas musicais românticos) tem uma gigantesca popularidade entre as mulheres e as otokoyaku (actrizes que fazem os papeis masculinos) têm legiões de fãs, como se de um Brad Pitt ou Johnny Depp se tratassem. Não há dúvida que é um universo fechado, exclusivamente nipónico, que teve a sua época áurea entre os anos 60 e 80, época essa em que a manga e anime de Oniisama He... foram produzidos.

Ao ver esta série também encontro claríssimas influências no anime mais recente, Utena, assumidamente inspirado na mais famosa manga da mesma autora desta, Ikeda Riyoko. Ao contrário de Versailles no Bara, aqui as influências não são tanto visuais mas mais do ambiente, das hierarquias, das personagens e suas relações.

1 comentário:

Anónimo disse...

Fizeste uma análise mesmo muito interessante, continua o bom trabalho :)

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