Vi a série de Eva quando deu na SIC da primeira vez e, desde aí, apenas tenho visto pedaços de episódios, mais ou menos aleatórios. Quando a Gainax lançou o Renewal of Evangelion vi videos promocionais com as melhorias do restauro graças às novas tecnologias digitais, mas tenho vindo a adiar ver de novo a série. Posto isto, a sequência lógica seria este conjunto de filmes comemorativos dos 10 anos de Evangelion, encetado com Rebuid of Evangelion 1.01.
O Rebuild of Evangelion consiste, mais que outra coisa, numa remontagem, limpeza e retoques da série de televisão. Sozinho o filme é uma obra consistente e independente, não obrigando o visionamento da série, mas por comparação há claras diferenças, algumas boas e algumas más.
A primeira de todas foi a limpeza técnica, tal como no Renewal, dos fotogramas, das cels, dos saltos na mudança de planos, pequenos defeitos originados pelo meio em que a série foi produzida, a película. A diferença é que em Rebuild deram à imagem um acabamento semelhante à actual pintura digital (por oposição à tradicional pintura manual das cels) mas que a escureceu bastante, resultando numa imagem muito contrastada e com cores por vezes saturadas. Não sei se foi da cópia que vi, mas mesmo que a minha cópia esteja escura, essa diferença está lá. Tornar Evangelion mais escuro pode ser uma reafirmação da densidade dos acontecimentos e da narrativa, mas acaba por se tornar redundante. Pessoalmente prefiro Eva com aquelas paisagens solarengas, cheias de luz e cores mais vivas e claras que esta versão. O contraste é mais eficaz a reforçar o lado complicado e denso da narrativa e lhe dar ao mesmo tempo um ar insólito.
Logicamente, transpor uma série (seja ela qual for) para filme, obriga a uma remontagem valente, mas a remontagem deste filme, mais virada para a acção e para os combates é mais básica e menos interessante. Uma das cenas que ficou prejudicada com isso foi o primeiro combate de Shinji, no Eva01, com o 4º Angel. Na série, utilizando uma montagem não-linear, percebemos que Shinji conseguiu derrotar o Angel mas não vemos o que aconteceu. Só mais tarde, quando Shinji acorda é que a batalha nos é mostrada por imagens. Este tipo de montagem, por oposição à montagem sequêncial da mesma batalha, provoca um choque emocional no espectador, jogando com a curiosidade e reforçando a confusão e desespero de Shinji. Por outro lado, a sequência da batalha de Shinji e Rei com o 6º Angel é ampliada e intensificada com a adição dos efeitos digitais, transformando-a numa excelente batalha e no clímax deste filme.
Olhando genericamente, prefiro uma montagem arrojada e não-linear como a que nos brindou a série ao longo dos 26 episódios. É diferente, está muito bem feita e é prova do génio dos seus criadores. O filme concentrou-se mais na acção e na interacção militar e tecnológica e menos no lado psicológico e emocional. É pena, pois uma das grandes qualidades da série de Eva foi exactamente essa abordagem psicanalítica e teológica à história, que lhe angariou imensos fãs, que se identificaram com os dilemas das personagens. Por se focar menos nas personagens, o lado de comédia que aligeirava a série também fica um tanto diluído e às vezes forçado.
Gostei do filme e vi-o com paixão, mas não o acho tão brilhante como a série. O tentarem incluir tudo, até mesmo o Pen2, quebrou um bocado o ritmo e a empatia que a série provocava.
E depois há a falta das canções. Não ouvir "Zankokuna Tenshi no Thesis" já foi estranho, mas logo o filme sugou-me para dentro dele e não senti tanto a falta da canção. Mas no fim não haver "Fly Me to the Moon" foi mais estranho ainda! Juro que estava à espera de começar a ouvir "fry me to za mun..." quando a voz, familiar, de Utada Hikaru começa a cantar uma canção J-Pop, a condizer com o tipo de anime que Evangelion é, mas desinteressante, depois de inúmeras versões de "Fly Me to the Moon", uma delas cantada por Utada Hikaru, foi decepcionante. E pessoalmente já gostava muito dessa canção muito antes de Eva. Assim como prefiro o logo da NERV como era antes. Com a outra imagem (que não percebo bem o que é) por trás fica uma trapalhada visual e não se percebe bem.
Gostei da boca de Misato no fim, depois do resumo do próximo filme, a prometer "saa... kono tsugi mo, service, service o!" (pois... e a seguir também, há fan service, fan service!).
Gostando menos ou não, Eva é Eva, e soube muito bem ver este filme e, claro, deu-me mais vontade ainda de rever a série!
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