24.2.14

Andersen Dowa Ningyo Hime

Encontro sempre nos animes dos anos 70 um charme que já desapareceu. Nem é por uma questão de nostalgia que os vejo, simplesmente aprecio mais a sua estética e linguagem cinematográfica mais directa. A sua produção era abordada simplesmente como um entretenimento e não como uma obra de valor artístico ou monetário, o que lhes dá uma simplicidade muito cativante.

Andersen Dowa Ningyo Hime, ou seja a Contos de Andersen, A Pequena Sereia, de 1975, é, dentro das adaptações de contos ocidentais dos anos 70 que já vi, das obras mais conseguidas. Os outros que vi são Hakuchou no Mizuumi (O Lago dos Cisnes) e Sekai Meisaku Dōwa: Oyayubi Hime (A Polegarzinha - que nunca comentei aqui). Primeiro o filme não desvia muito do conto original (de que sou fã desde pequena), coisa realmente desnecessária - em equipa ganha não se mexe - os contos de Hans Christian Andersen já são extremamente dramáticos e visuais por si só, não precisam de glitter. Apesar disso não desgostei do final feliz da versão da Disney e a Pequena Sereia ainda é o meu filme Disney preferido da era moderna.

Voltando ao Japão, a estética clássica da Toei pelas mãos mais que talentosas de Shingo Araki (eu sabia, eu sabia!) alia-se a uma animação impecável para a época, num filme onde não há a estranheza de uma animação muitas vezes arcaica ou "parada" das séries para TV. Não é só o character design que é lindíssimo, a animação, como já disse, é muito boa e os cenários deslumbrantes. O fundo do mar é escuro e algo lúgubre, o que nos ajuda a reforçar a ânsia de Marina (Ariel é invenção da Disney, no conto de Andersen a sereia não tem nome) em ver o céu e a superfície da terra, cheio de navios naufragados ou construções de búzios espiralados. Por seu lado, a terra é solarenga e parece tirada das ilustrações de um livro de contos ocidental. Mesmo assim, nenhuma das construções, submarina ou terrestre é monumental ou avassaladora, são suficientemente luxuosas e acolhedoras para espicaçar a curiosidade do espectador comum e deslumbrar uma criança japonesa dos anos 70, para quem qualquer coisinha ocidental teria parecido exótica.
Quando Marina vem à superfície pela primeira vez.
A história em si desenrola-se rapidamente mas de modo equilibrado, afinal o filme tem apenas uma hora, sem desperdiçar tempo em subterfúgios ou sentimentalismos lamechas. Quem fez a adaptação do conto respeitou-o no seu dramatismo algo cruel, que aliás caracteriza quase todos os contos de Andersen. Gostei da presença quase constante da Bruxa, como uma sombra, enquanto que apenas tem duas cenas curtas em que participa activamente, brrr, é sinistro. Apenas dispensava o "golfinho amiguinho", mas optando por excluir a narração em off, Marina precisava de "alguém" para interagir, portanto é um mal necessário e os japoneses adoooram uma mascote!

Ao ver este filme tive uma vaga sensação de familiaridade, portanto é provável que o tenha visto quando era miúda, mas não tenho memórias concretas e a adaptação que mais me lembro da Pequena Sereia era um filme de um país de leste, talvez checo, que passou no Vasco Granja e que tem semelhanças estéticas com este. Sou parcial na minha leitura deste filme pois é o meu conto de Andersen, o meu escritor de contos infantis preferido, favorito e Shingo Araki é um dos meus heróis. Digo "é", pois apesar de já ter morrido, estou longe de ter visto toda a sua obra. Ah, as sereias deste filme não usam soutien! Eu sei que é por uma questão de classificação etária, etc., etc., mas sempre achei que soutiens em sereias são um anacronismo. O mais engraçado é que apesar de não ser frequente, não houve uma preocupação exagerada em tapar as maminhas de Marina e temos o ocasional mamilo à vista. Quando pensamos nos tempos passados como épocas pudicas e depois vejo um filme destes, que mostra maminhas sem as sexualizar, pergunto-me se os tempos pudicos não serão agora.

Andersen Dowa - Ningyo Hime - ANN

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