30.7.12

Terminei de ver: Kuroshitsuji

 
Esta série foi daquelas que prometeu e não cumpriu. Realmente, como disse no post anterior, parecia uma série bem feita e a história prometia mistério sobrenatural. Infelizmente ao 5º episódio... fartei-me!

Já não há séries mal animadas e que não encham o olho, e nesse aspecto Kuroshitsuji é um doce tão apetecível como as sobremesas retratadas na série, mas a história tem pouco conteúdo, demasiadas personagens irritantes e não desperta o interesse. O mistério de Ciel e Sebastian é rapidamente explicado, de forma a parecer que ainda há mais qualquer coisa até ao fim da série, mas não passa de um simples pacto com o diabo (demónio?) e vingança. Ciel, Greil Sutcliffe, Undertaker e Madame Red, personagens com imenso potencial, irritam-me. O Undertaker então, não suporto personagens masculinas que falam daquela forma lenta e afectada, parece que só lá estão para enfeitar. O que no caso do Undertaker é isso mesmo, pois durante a série ele serve de muito pouco. As únicas personagens de que gosto são Sebastian, fiel ao seu sarcasmo até ao final, e os outros empregados da casa, que apesar de parecerem apenas um elemento de descompressão ao início, são quem surpreendentemente tem realmente uma função a cumprir nesta série.

A história desenvolve muito pouco, repartindo-se em pequenos casos detetivescos pouco interessantes com um fundo de mistério e sobrenatural que de algum modo os liga a Ciel Phantomhive. Os anjos demoníacos, são uma subversão demasiado óbvia das características angelicais, já muito vista e repetida. Mais ainda pois toda esta atenção dada à mitologia dos anjos e demónios não faz muito sentido numa Inglaterra Vitoriana, onde o Príncipe Albert, marido da Rainha Vitória, vem de um contexto Luterano e a própria Vitória do contexto Protestante. Este tipo de intriga só faria sentido num país Católico, pois choca com os seus valores mitológicos mais sagrados. Vejam/leiam Constantine, um comic e filme norte-americano onde este tipo de ideia é desenvolvido de forma mais interessante.

 

Em termos visuais Kuroshitsuji cumpre, e até vai buscar no 2º genérico final um quadro que aprecio muito, A Ilha dos Mortos, de Arnold Böcklin, como inspiração, uma citação inesperada! De notar que conhecem-se pelo menos quatro versões da Ilha dos Mortos pelo mesmo autor. As mesmas estão expostas em vários museus pelo mundo fora.

Só recomendo Kuroshitsuji a quem sinta apelo pelo lado estético, pois como história é pobre e um bocado aborrecida, tal como o Ciel. Vou encher-me de forças para ver a segunda série e os OVAs, mas a vontade não é das maiores. Muito provavelmente vou intercalar com outra série que tenha tido que interromper, como Galaxy Express 999 ou Ace wo Nerae!.

黒執事

24.7.12

Terminei de ver: Glass no Kamen (2005)


Há muito que não terminava uma série de anime com esta sensação, uma sensação de leveza e de ressaca de emoções fortes... Acho que a última vez que me senti assim foi ao ver as quatro primeiras séries modernas de Doctor Who. Ah Russel T Davies, és definitivamente um dos meus heróis! Se Glass no Kamen já era uma série excelente na versão um pouco datada de 1984, a versão de 2005, retrabalhada de forma a destacar mais as personagens e limpa de maneirismos ou clichés, demonstra que é possível fazer remakes, melhor, segundas versões de histórias sem estragar mas sim melhorando actualizando-as. Depois de ver estas duas séries compreendo o clássico que Glass no Kamen é para a manga shoujo e definitivamente é uma prioridade na minha lista de mangas a ler.

Tive de fazer uma pausa forçada no visionamento desta série, computador pifado, trabalho, vida e a dificuldade em encontrar a segunda metade dos episódios, mas ultimamente andava mesmo com vontade de ver o resto e a altura não podia ser mais propícia. Apesar de a primeira metade da série se concentrar mais na aprendizagem no sentido académico de Maya e a segunda no amadurecimento como actriz e mulher, o que as destingue, a sensação que tive há quatro anos quando vi a primeira metade é a mesma mas mais intensa pois as emoções vão crescendo e intensificando-se.

Glass no Kamen de 2005 é uma série extremamente rica, com personagens muito humanas, mesmo que façam sacrifícios sobrehumanos, que nos levam numa montanha russa de sensações bastante rara na ficção moderna. Talvez o mérito esteja todo em Miuchi Suzue, a autora da longa e inacabada manga, mas também passa e muito pelos argumentistas da série, que raramente terminam um episódio sem ser em cliffhanger e que me fizeram ver vários episódios em catadupa, coisa que raramente faço. Nesta segunda metade sentimos Maya à altura da rival Ayumi, competindo de forma justa. O segundo genérico representa muitíssimo bem a sua história, de miúda talentosa que tem de lutar por um lugar ao Sol e de Ayumi, para sempre apaparicada mas determinada em encontrar a sua própria voz. De modos opostos as duas chegam ao mesmo objectivo, representar "Kurenai Tenyo" [A Deusa Escarlate], a mítica peça escrita para a mestra Chigusa Tsukikage. O esforço de ambas é igualmente válido e intenso e isso é reconhecido tanto pelas duas raparigas como rivais, como pelos colegas e Chigusa. Cabe a cada um escolher a versão que lhe assenta melhor.

Não deixa de ser interessante observar como as peças de teatro, sejam elas reais, Helen Keller, Sonho de uma Noite de Verão, ou fictícias, As Duas Rainhas, são instrumentos para fazer avançar a protagonista e de modo algum se tornam chatas por serem exploradas com bastante pormenor, em média 3 episódios por peça. Em cada peça coloca-se um novo desafio a Maya e por consequência a Ayumi, rival, e Hayami, interesse amoroso. A relação de Ayumi e Maya também não é a clássica relação menina-rica-e-cabra contra menina-pobre-e-boazinha, as duas respeitam-se e aprendem uma com a outra. Na fase das Duas Princesas até se ajudam mutuamente.

O modo como a relação de Maya e Hayami se desenrola é uma peça importantíssima da história e adiciona-lhe uma intensidade do shoujo clássico dos anos 70, sem o lado piroso e sentimentalão que foi eliminado nesta versão. O modo como a verdadeira identidade de Hayami é revelada, para além de ser um dos maiores cliffhangers da série, é inteligente e muito credível, sem recorrer a subterfúgios narrativos gratuitos e leva Maya a tomar decisões fulcrais na sua vida. Maya cresce incrivelmente nesta segunda metade em muito devido à sua relação com ele.

Glass no Kamen é uma série que não se compreende como passou tão despercebida, pois não há série moe ou afins que lhe chegue aos calcanhares. Hoje em dia já não se podem comparar as séries em termos técnicos, pois os computadores vieram facilitar uma boa execução e raramente se vêm séries mal produzidas ou baratas, porque o orçamento não chegou. O que valoriza uma série é a sua história, personagens bem construídas e eventualmente se a estética visual e sonora agrada ao espectador. Isto comprova que o que tem verdadeirmente valor é universal e não vai em modas. É pena que por vezes passe despercebido.

Continua a ser um mistério para mim como é que os japoneses conseguem emocionar-me desta forma que a ficção Ocidental raramente consegue. Talvez deva permanecer um mistério para eu continuar a ter esta sensação. Felizmente Glass no Kamen não acaba por aqui, há os OAVs dos anos 80, de que já vi pelo menos um, e a série live-action. Por fim há os 48 volumes da manga que seguramente vão saber a pouco, nem que seja porque é uma incógnita se Miuchi Suzue algum dia a terminará.

ガラスの仮面

RAW

15.7.12

Comecei a ver: Kuroshitsuji

Quando esta série foi lançada, chamou-me a atenção nas páginas da Newtype, mas como a lista é sempre longa, logo a descartei. Tenho de confessar que esta é mais uma série que foi o cosplay que me levou a vê-la, a sucessão de bons cosplays, apesar de um bocado góticos para o meu gosto, despertou a minha curiosidade.

Apenas vi alguns episódios e tenho uma certa dificuldade em classificar Kuroshitsuji. Claramente não é um shounen, mas também não é o típico shoujo, ainda por cima porque os protagonistas são um rapaz e um demónio (o que também não é significativo). Está, definitivamente, inserida no género fantástico e sobrenatural, essa parte é clara, mas conjunto do estilo de narrativa e a estética são de certa forma novidade. Será que podemos criar o género "lolita"? Digo isto pois, tal como Rozen Maiden, é claramente uma série criada a apelar às lolitas ou às lolitas-cosplayers.

Kuroshitsuji é um misto de série de mistério/policial com comédia e fantástico à mistura. Passa-se na Londres Vitoriana, mas vai mais além, onde o tom do fantástico é muito mais nipónico que britânico, com direito a shinigamis (que aparentemente andam muito na moda - já conto três séries recentes com shinigamis: Death Note, Bleach e Kuroshitsuji) e jardins japoneses. No dia-a-dia Kuroshitsuji parece ser um manual de hábitos Vitorianos, principalmente no que toca ao chá. O rigor histórico é irritantemente alto e estou mesmo a ver as lolitas a tomar notas a cada episódio. Não é que não goste, mas é um traço típico da comédia à japonesa. Claro que, sendo uma série do fantástico há muitas concessões, mas ao contrário das séries dos anos 70-80, essas concessões, sejam a nível do guarda-roupa ou cenários ou de determinadas acções/atitudes, são claramente derivadas de uma pesquisa exaustiva. O resultado é um gótico-barroco, cheio de detalhes que dá a Kuroshitsuji um aspecto luxuoso e cuidado.

Como ainda só vou no início e cada episódio apenas desvenda um pouquinho do mistério da morte dos pais de Ciel e do seu pacto com Sebastian, ando a saborear essa descoberta. A relação de Ciel, sombrio e aborrecido, com o mordomo Sebastian, ultra-competente e sarcástico, é muito engraçada. Acho estranho o protagonista aparentemente ser uma personagem tão pouco apelativa, o que de facto é compensado por Sebastian, mas com os japoneses nunca se sabe... Os outros elementos que habitam a mansão são a criada trapalhona, o cozinheiro que queima constantemente a comida, o jardineiro que se engana nos adubos e o velho mordomo/valete que passa o tempo quase todo na forma chibi a beber sencha. Resumindo, os outros empregados são de fachada e é Sebastian quem realmente toma conta da casa e de Ciel. Como ele mesmo diz: "Akumade no shitsuji", em que as palavras "akumade" são um trocadilho entre um mordomo extremoso (aku made) e um mordomo demónio (akuma de). Aliás, há mais trocadilhos do género na série, que infelizmente são difícieis de transpor numa tradução.

Apesar de não me ter encantado, Kuroshitsuji parece-me ser uma boa série que vale a pena ver, e tenho uma certa curiosidade em saber mais. Como cereja no topo do bolo fica o delicioso genérico final, que retrata em versão chibi o dia-a-dia de Ciel com Sebastian. Não sou grande fã da canção, apesar de não me chatear.

Becca - I'm Alive



13.7.12

Terminei de ver: Candy Candy

É-me impossível escrever este post sem fazer SPOILERS, portanto deixo o aviso à navegação, se não querem saber detalhes acerca do final da Candy Candy, leiam apenas quando o virem/lerem.


É caso para dizer: FINALMENTE! Pois levei 14 anos para saber a segunda metade e o final da história de Candy Candy e quase 30 para ver a série até ao fim! Há uma explicação, Candy Candy foi cancelada a meio na RTP, quando deu a única vez em 1983-84, e só nos anos 90 tive a possibilidade de adquirir e ler a manga de Candy Candy em japonês, onde finalmente foi satisfeita essa curiosidade imensa. Entretanto deu-se o processo de direitos de autor entre as duas autoras, que resultou num embargo geral à Candy Candy, o que impossibilitou o acesso à série de forma legal. Sendo uma série antiga não foi das mais fáceis de encontrar pelas "internetes", demorei a conseguir a série completa e só recentemente tive finalmente a disponibilidade de voltar a pegar na Candy.

Bom, como disse no post anterior, a segunda metade da Candy está cheia de fillers o que é uma grandecíssima seca. Até parece que o director/produtor geral da série mudou e resolveram esvaziar Candy Candy de romance e fazer da série um pseudo-western. Comparativamente à primeira metade, quase metade dos episódios são fillers e mesmo quando têm a possibilidade de esticar a narrativa através dos acontecimentos originais da manga, que não são poucos, resolvem inventar novas intrigas, com novas personagens, que pouco ou nada têm a ver com a restante série, excepto serem protagonizadas por Candy. Até o rigor histórico, que já era pitoresco e pouco correcto, foi parar às urtigas. A dada altura perguntei-me porque de repente parecia que estava a ver um shounen infantil em vez de um shoujo adolescente. Mas as partes que são adaptadas da manga são bastante fiéis apesar de deixarem o romance ao mínimo. É romance que nós queremos! São lagriminhas impossiveis de controlar que queremos!

O pior mesmo é o final, que apesar de um pouco condensado e precipitado estava a correr bem até Candy voltar à Colina da Pony. O momento fulcral da série, o fechar do círculo, a explicação de tudo, as emoções ao rubro, no que deveria ser um momento privado entre Candy e Albert, torna-se uma experiência colectiva, com a adição de Annie, Archie e os membros do Lar da Pony, com uma necessidade pouco interessante de deixar tudo explicadinho sem a mínima alusão a um futuro, muito menos a um possível romance entre eles. Nem um plano dos dois sozinhos nos dão! Várias vezes ao longo da série, de certa forma até mais que na manga, foram dadas sugestões de que o Príncipe da Colina é que era o homem para Candy para depois nos deixarem a chupar no dedo... enfim, o final na manga é mais satisfatório apesar de deixar as coisas em suspense. 
"Ficas mais bonita a sorrir!"


E, para quem se pergunte, eu sou fã de Terry para sempre, era ele quem eu gostaria que ficasse com Candy. Mas também acho que depois dos acontecimentos com Susanna, da decisão de Candy de se afastar, seguidos da aproximação e empatia dela com Albert, numa relação de amor e companheirismo, é com Albert que ela fica melhor. São decisões realistas que muitas vezes as pessoas têm de tomar. A relação de Candy com Albert é mais madura e praticamente um casamento sem sexo. Mas ninguém estava à espera de ver sexo em Candy, portanto... é um bocado como as metáforas de sexo nos filmes de Hollywood após o estabelecimento do Código Hayes.

No geral Candy Candy continua a minha série favorita, mas nunca dissociando da manga onde a história está muito mais bem escrita. Era uma série, que se a situação das autoras não fosse a que é, merecia um remake à altura, sem fillers nem "caubóiadas"! Apesar de Shingo Araki, o character designer ideal para Candy, ter morrido, se fizessem uma produção como a de 2005 de Glass no Kamen, sem a necessidade de tantos episódios, Candy Candy teria a adaptação perfeita a série anime. Só sentiria falta daqueles genéricos maravilhosos!!!

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