14.6.22

Comecei a ver: Kimetsu no Yaiba

Bom, para começar, é "comecei a ver" porque, apesar de já ter visto a série completa, sei que vem aí mais Kimetsu no Yaiba.

Kimetsu no Yaiba é uma série de fantasia, acerca de caçadores de demónios, no Japão da era Taisho (1912 - 1926), depois da proibição de andar com katanas em público. A proibição das katanas é importante, pois torna os caçadores marginais, porque a sua actividade não é sancionada pelo governo, apesar do serviço público que executam.

Agora que já vi a série, a lógica do filme já faz mais sentido. Felizmente não me parece que tenha feito asneira com a tradução e ainda prefiro as minhas opções, como substituir "respiração" por "sopro". É uma palavra mais curta e mais elegante, reforçando o misticismo dos poderes dos caçadores.

Depois de ver a série, já gosto mais de Tanjiro, o protagonista, será por chorar menos? Sim, Tanjiro na série é mais determinado e corajoso, mesmo que sensível às emoções dos outros, incluindo dos demónios.  Mas os meus preferidos continuam a ser o Inosuke e a Nezuko. O Inozuke diverte-me imenso e gosto da personalidade javaliesca, de levar tudo à frente, mas com um coração gigante. É a besta de bom coração. Adoro a patetice de Nezuko, mas que não se deixa pisar em situações de perigo. E acredito que venha a ser muito útil ao grupinho de caçadores. Mas também gosto dos corvos e do pardal de Zenitsu xD.

O mais importante da lógica de Kimetsu no Yaiba, contudo, é a dos demónios. Há muitos e variados demónios, mas os que importam são Muzan e as Doze Luas. Muzan é um demónio particularmente poderoso, capaz de se esquivar de modo eficaz aos caçadores há bastante tempo e foi quem matou a família de Tanjiro e transformou Nezuko em demónio.  As Doze Luas são uma espécie de discípulos de Muzan, transformados por ele e agem sob as suas ordens, que no final da série a ordem que importa é que o caçador virou caça, estão atrás de Tanjiro.

Como já disse no post acerca do filme, gosto da estética um pouco ukiyo-e da série,  com cores vivas e degradés simples, os fatos são interessantes no misto de uniforme clássico escolar masculino (já lá vou às raparigas) da era Taisho com peças tradicionais, que caracterizam cada caçador e o seu poder principal. Um exemplo: Tanjiro, tem um uchikake aos quadrados verdes e pretos. O verde remete para a água, o seu poder principal, os quadrados, ichimatsu, remetem para as montanhas de onde ele vem, pois ichimatsu está relacionado com árvores. Com as raparigas é quando o uniforme se personalisa mais, pois, para além de ser para todos os efeitos um uniforme masculino, umas usam com as calças originais (tobi, calças de trabalho), com saia, com o casaco aberto por não ter espaço para mamas grandes, etc. a outra parte do traje dos caçadores que é personalisada são as katanas. Quando a envergam pela primeira vez, a katana assume uma cor e/ou desenho especial, fora a de Inozuke, cuja lâmina serrada é cortada por ele, para grande choque do ferreiro.

Falando em katanas, mais uma vez vejo traduzidas como espadas. Não! Para além da regra ser: espadas têm 2 gumes, sabres têm um gume, para traduzir katana, ou se deixa "katana", como uma denominação específica e um estrangeirismo, ou se usa o termo mais genérico, "sabre". Naturalmente há excepções e uma tradução não deve ser um tratado sobre armas brancas, mas algum rigor é bem-vindo. 

Curiosamente desta vez, apesar de Kimetsu no Yaiba passar no Biggs, a distribuidora e o canal optaram por não dobrar a série e legendá-la. Como prefiro sempre anime legendado, fiquei contente com a decisão, mas infelizmente, para além do erro acima, infelizmente a tradução é pobre e por vezes tem mau português, má gramática e alguns erros de ortografia. Não custa nada passar o texto pelo corrector ortográfico, mas pelos vistos há "tradutores" que confiam tanto nos seus textos que não o fazem. Gralhas toda a gente faz, mas os erros ortográficos podem ser eliminados com o corrector, que é amigo.

De certa forma gostei mais da série que do filme, é uma narrativa de anime clássica, com quase todos os episódios a terminar num cliff hanger. Gosto, fez-me ver, por vezes 2 ou 3 episódios de seguida e eu não costumo fazer maratonas, sobretudo agora. A história é empolgante, queremos saber o que vai acontecer àquelas pessoas e tem acção q.b. para entreter a malta. Os protagonistas também são interessantes e os episódios de luta são intercalados por alguns mais leves, onde os protagonistas recuperam ou tratam de coisas práticas. Assim não se torna cansativo, desde que cada bloco não tenha demasiados episódios. Agora o filme, apesar de funcionar bem sozinho, parece um episódio alargado da série e de certa forma remata o seu final. Só de vez em quando aparece um demónio que gosta de discursar... caramba, que chatos! Só para os calar fico a torcer pelos caçadores! 

Cá fico à espera da próxima série e que estreie no Biggs, pois pretendo continuar a ver, afinal ainda há muito demónio para destruir.

アニメ 「気滅の刃」

Biggs


2.4.22

Eiga xxxHOLiC

A Saga Para ir Ver um Filme

Preparem-se, este vai ser longo e por ordem cronológica, pois tem imensa coisa em jogo, que me levou a ir e voltar ao Porto no mesmo dia, para ver o filme com o bilhete mais caro da minha vida.

Quem só quiser ler sobre o filme, pode saltar lá para baixo, a seguir à minha foto com a Mokona.

Gosto muito de filmes de terror acho que desde miúda, um dos primeiros autores que li foi Edgar Allen Poe, mas só comecei a ver filmes de terror com regularidade desde a adolescência. Foi nessa mesma altura da adolescência que o Fantasporto nasceu e desde essa data que sempre quis ir ao festival e nunca consegui. O primeiro festival de cinema a que fui foi o Cinanima de 1986 e foi uma experiência que marcou a minha vida, até hoje ligada a festivais de cinema, em maior ou menor escala.

Sou fã das CLAMP e xxxHOLiC e X são as minhas mangas preferidas delas. Tanto que já nem sei quantos fatos de cosplay fiz da Yuuko. (conta pelos dedos... 6?). Descobri as CLAMP no final dos anos 90, já nem me lembro bem como, e a primeira manga delas que li e comprei foi X, ainda a minha manga preferida de sempre, infelizmente incompleta devido a vários problemas editoriais, entre outros.

Quando comecei a fazer cosplay, em meados dos anos 90, lembro-me de "declarar" que nunca faria fatos das CLAMP, por não ter paciência para estar com tantos detalhes complicados. Passados 26 anos, 6 fatos da Yuuko, mais 3 em planeamento, 2 da Hokuto (Tokyo Babylon), mais uns 4 em planeamento e um de Miyuki-chan in Wonderland em planeamento. Oh, a ironia!

Desde que comprei as minhas primeiras mangas de X, que tenho vindo a coleccionar as mangas das CLAMP, que são claramente as mangaka com maior representatividade na minha estante. Só não comprei alguns títulos mais antigos, como RG-Veda, e outros que, por algum motivo não me chamaram, como Drug Drop. Mas, ao chegar à fase de Chobits, tive uma "zanga" com elas, comecei a achar que andavam a fazer manga a metro, e andavam! Fiz uma pequena pausa na colecção. Passado algum tempo, provavelmente menos que agora me parece, elas começam a publicar em simultâneo Tsubasa -RESERVoir CHRoNiCLE- e xxxHOLiC. Enquanto que Tsubasa não me chamou, fiquei muito curiosa com xxxHOLiC, com as suas capas art nouveau orientalistas. Na altura havia a lojinha Jikai em Lisboa, onde o meu amigo Leonardo encomendou os primeiros volumes de xxxHOLiC e Tsubasa em japonês. Comprei-lhe os primeiros e passei a ter encomendados os seguintes que fossem editados. Entretanto a Jikai fechou e sempre que tinha oportunidade, a maioria das vezes na JP-Books em Londres, fui comprando a restante manga. Tenho a primeira série completa, a segunda ainda em publicação, o guia e o artbook.

Devorei o filme e as séries de animação da Madhouse, mas não vi todos os OAVs, por confusão gerada no seu lançamento e a clássica falta de disponibilidade. Quando saiu, vi o dorama, mas fiquei muito decepcionada. Não respeitava muito a manga, não gostei particularmente do elenco, excepto o Doumeki e a Jourogumo (a mesma actriz que encarnou Maya Kitajima em Glass no Kamen) e detestei os figurinos, que pareciam uma versão foleira dos desenhos maravilhosos das CLAMP. Para além disso, a narrativa foi muito mal conseguida.

Em Setembro de 2021 estreia uma adaptação para teatro de xxxHOLiC com um elenco inteiramente masculino, com super bom aspecto e onde até recriaram o sofá art nouveau da Yuuko!

Em Novembro de 2021 é anunciada a adaptação para cinema de xxxHOLiC, por Mika Ninagawa. Onde tinha ouvido este nome antes? Ah, Kamikaze Girls, ah, Sakuran! (de que também tenho a manga, de Moyoco Anno). Também vi a maluqueira do Diner, num MOTELx passado, se não me engano. Esta informação e o primeiro poster prometiam! Mas bom, pensei que seria mais um a ver na candonga.

Em Fevereiro deste ano, o Fantasporto, Festival de Cinema de Terror e Fantástico do Porto, anunciou, através do seu parceiro, a Central Comics, que o filme iria ter a sua estreia mundial no Fantasporto em Abril! No Japão já estava anunciada a data de estreia a 29 de Abril. Eu TINHA DE IR!

Entrei em contacto com o festival através do Instagram, Messenger e email, a pedir um convite e a propor levar o meu fato da Yuuko do kimono vestido. Mas a resposta demorou a chegar. Entretanto a data foi anunciada, 2 de Abril, mas no site do festival, zero informação. Em fim de Março finalmente anunciam o programa, a conta-gotas, xxxHOLiC com duas sessões, uma na sessão de abertura a dia 1 de Abril (aniversário do Watanuki e data fundamental para as CLAMP) à noite. Os bilhetes deveriam comecar a estar à venda dia 24 de Março. Vou ao site, nada, vou à BOL, nada. Eis que recebo uma resposta no messenger: "O festival não oferece convites". Passados uns dias, por email, o mesmo. "Já não levo cosplay, não merecem o esforço." Uns dias depois, sinceramente não sei em que dia os bilhetes realmente foram postos à venda, vou ao site e compro o bilhete. Decepção n° 2: há desconto para estudante, mas só se comprar o bilhete ao vivo no Rivoli. Não queria nem podia arriscar, em Lisboa, as sessões de abertura dos festivais de cinema esgotam rapidamente. Ainda pensei em pernoitar no Porto, a sessão era às 20h45, terminava perto das 23h, mas os preços no centro do Porto são para turistas estrangeiros e com a pandemia ainda por cá, não quero partilhar un quarto com desconhecidos num hostel. O ultimo Alfa ou Intercidades é cerca das 19h... antigamente havia um Regional nocturno, daqueles que param em todas, onde viajavam os magalas. Será que ainda existe? Dito e feito, bilhetes de comboio comprados, dia 1 de Abril iria estar em trânsito, tudo por causa de um filme, adaptado de uma manga, mais de 24h (acabaram por ser 25h30).

A arrumar parte dos meus cosplays, por causa do Anisama (evento onde levei alguns fatos, numa banca para divulgar a minha tese de doutoramento em curso, sobre o cosplay), lembrei-me do fato do episódio do taco de beisebol, que no geral é confortável, pois trata-se de um vestidinho em malha de t-shirt, uma écharpe, collants de rede larga e botas acima do joelho (mais o taco de beisebol, mas não ia com o taco atrás para o Porto). Preparei as coisas de modo a ir semi vestida e lá colocar a peruca e as botas.

Collants de rede larga, sobretudo as baratuxas da Primark, não são para ser vestidas ao lusco-fusco, de madrugada, tinha os dedos dos pés a tentar sair por cada buraco porque passavam.  São super confortáveis, mas ao longo do dia senti-as a rebentar de vez em quando. Ai Yuuko a quanto obrigas!

A caminho do comboio lembrei-me que, entre café, comida e cosplay, esqueci-me dos óculos escuros. Já não podia voltar para trás. No comboio tomei o pequeno-almoço que levei e dormi até Espinho, onde coloquei as lentes de contacto. Mal cheguei a São Bento, trepei até Santa Catarina para ir à Tiger comprar uns óculos baratinhos. Fiz um xixi e atestei a garrafa de água no Via Catarina e a seguir fui à Confeitaria do Bulhão tomar o segundo pequeno-almoço. Infelizmente fui atendida por um empregado impaciente, o que só os prejudicou, podia ter consumido mais. Como tinha o dia para passear no Porto, tinha planeado visitar as minhas capelinhas. Tirei uma primeira foto à Mokona, que me acompanhou nesta viagem, em frente ao Rivoli e fui para o Jardim das Oliveiras, nos Clérigos, curtir o bom tempo e finalizar a maquilhagem. O meu eyeliner estás a dar as últimas... A fila para entrar na Lello & Irmão, gigantesca. Fiquei ali, a ler, a tirar fotos, a aproveitar o Wi-Fi gratuito do Porto, até à hora do almoço. Fiz uma série de stories no Instagram intitulada "Mokona's Adventures in Porto" que vão ficar nos Highlights (@misatolx).

Almocei um fantástico hamburguer vegetariano no Munchies, e fui tirando fotografias com a Mokona. Voltei a subir, para ir dar a minha voltinha à minha rua preferida do Porto, a Rua da Cedofeita. Pouco depois de sair da Feira dos Tecidos, não é que encontro um casal conhecido, que mora nos arredores do Porto? Eles também andavam à caça de tecidos e perguntaram-me se queria ir com eles. Portanto, o plano inicial de, depois da Cedofeita, ir ao arquivo dos azulejos, foi alterado.

Quando ia com eles a caminho das outras lojas de tecidos, recebo uma mensagem no Instagram, a dizer para aparecer na Secretaria do Festival no Rivoli. Perguntei para quê, perguntaram-me se já tinha bilhete.😒

Fomos a uma loja de tecidos, chamada Vaz, Oliveira & C.a, Lda., que foi outrora na zona dos Clérigos, onde já houve muitas lojas de tecidos do género. Depois fomos à Mundo dos Tecidos, mas desta vez não gastei dinheiro em tecidos no Porto. Despedi-me do casal e voltei à Cordoaria, pois não tinha feito uma das coisas importantes a fazer, comprar um pastel de Chaves para a viagem de regresso na Padaria Ribeiro.

Mas antes lá passei no Rivoli. Apesar de já não ter vontade de pedir nada ao festival, quem sou eu para menosprezar uma cortesia quando me é oferecida. Conheci uma das moças do festival, para bilhetes já era tarde demais, já o tinha comprado, mas perguntei se não teriam algum cartaz ou postal do filme e se seria possível vestir-me lá dentro. Do Fantasporto, para além do cartaz na fachada e os programas do festival, pouco mais havia, excepto uma banquinha da Central Comics, onde havia uma figura de Cutey Honey (a versão do filme da Gainax) a vender. A rapariga era simpática e conversámos um bocadinho.

A começar a ficar cansada e a precisar de atestar a garrafa de água, voltei ao Via Catarina (da Cordoaria), fazendo um desvio pelos Lóios, pois a parte baixa dos Aliados estava toda em obras e não me apetecia passar por ali. Ainda me sentei numa fonte na Batalha a lanchar um gelado, antes de ir para o Via Catarina. A praça da Batalha já teve imensos bancos de jardim, mas foram todos saneados. Acabei por me sentar numa fonte na junção com a Rua de Santa Catarina.

Já no Via Catarina, fiz mais uma visita às instalações sanitárias, fui ao Continente comprar algo para beber para a viagem e sentei-me numa das mesas da zona de refeições a descansar os pezinhos e a aproveitar mais uma vez o Wi-Fi gratuito. Comi qualquer coisa por lá e fui para o Rivoli.

Posters ou postais, "já não há" e lá me fui vestir na casa de banho. Tirei as leggings, calcei as botas, prendi a écharpe com a rosa vermelha, pus a peruca (versão curta duração) mas o cansaço já era tanto, que só verifiquei se a maquilhagem não estava borrada (não estava) e não retoquei ou reforcei o rímel, à falta de pestanas postiças. É por isso que gosto de ir vestida de casa para os eventos, não há pior tortura que uma pessoa vestir um fato de cosplay numa casa de banho apertada!

Houve um pequeno desencontro com uma amiga cosplayer, mas depois ela encontrou-me dentro da sala. Estávamos a conversar um pouco, quando se junta a nós um outro colega destas andanças dos animus. Foi um mini-meet.

A sessão de abertura do Fantasporto limitou-se a um discurso da Directora, em português e inglês, nem uns trailers, nem uns jurados em palco, nada. Depois começou o filme sem sequer uma pequena apresentação. Se os festivais de Lisboa pecam pelo excesso, o Fantas peca por defeito. Ah, eu preocupada com a eventualidade de os bilhetes esgotarem, a sala estava a meio, quando muito a 2/3. Como festival achei pobrezinho, mesmo comparando com os Cinanimas nos anos 80. A restante programação japonesa é bem composta, mas não havia orçamento para mais.

Depois do filme, ainda tive tempo para beber uma cerveja com a minha amiga e o namorado.🍻

De lá fui apanhar o comboio para Campanhã e de lá o Regional para Lisboa. Decepção n°1: os comboios regionais novos da CP são como comboios suburbanos, não têm casa de banho nem bancos suficientemente confortáveis para uma viagem tão longa (4h). Decepção n°2 (também válida para o Intercidades): tenho uma ideia de os comboios nocturnos terem as luzes um pouco menos intensas, no século passado, isso, aliado a bancos desadequados e o clássico aquecimento que só aquece junto à janela, e ainda um grupinho que de vez em quando fazia demasiado barulho (quizomba e sei lá), fez com que dormisse muito pouco e viajasse desconfortável com vontade de ir à casa de banho. Decepção n°3: o comboio não tinha Wi-Fi. CP, arranjem outro tipo de comboios para estas viagens. Um comboio regional não é a mesma coisa que um comboio suburbano.

O Filme

Sem querer fazer spoilers, Eiga xxxHOLiC é um filme para os fãs da manga. Apesar da natureza episódica da manga, adaptaram as duas linhas narrativas dos protagonistas, do Watanuki e da Yuuko, e fizeram uma remistura. Ambas as narrativas são bastante complicadas e estendem-se ao longo de muitos volumes na manga, mas foi bem resolvida na sua complexidade, e não topei nenhum buraco narrativo. Por outro lado, quem não estiver por dentro daquele universo e mesmo do estilo narrativo das CLAMP (Ōkawa-sensei: olá!👋) deve ter-se sentido muito perdido.

Para compensar, Mika Ninagawa é muito boa a reinterpretar estas mangas visualmente muito barrocas e fez um excelente trabalho com xxxHOLiC. O filme cita o estilo das CLAMP, mas não faz uma cópia, reinterpreta. Gostei muito das soluções encontradas para tornar as coisas mais plausíveis num contexto mais real e mesmo assim com economia de meios. Por exemplo, nunca se vê a casa de Yuuko, só pequenos pormenores, como portas ou janelas, rodeados de glicínias. Os interiores da casa lembram os desenhos da manga, mas, mais uma vez, não são cópias literais da mesma. O mesmo pode dizer-se dos figurinos da Yuuko e das outras personagens sobrenaturais, que fazem lembrar os desenhos das CLAMP, sem os copiar. Para um filme com um aspecto tao luxuriante, acho que foram económicos no design de produção. 

Os actores foram meticulosamente escolhidos. Adorei Ko Shibasaki, que faz de Yuuko, embora, na minha cabeça, ela tenha uma voz mais grave. Ryuunosuke Kamiki,  que interpreta Watanuki é muito bom, mas nota-se que não tem 16-17 anos. Não posso dizer muito acerca do actor que faz de Doumeki, Hokuto Matsumura, pois a personagem é muito lacónica. Himawari, Tina Tamashiro, é a que está mais num estilo clássico de interpretação japonês, como nos doramas, mas isso é muito em personagem, com aqueles acenos e linguagem corporal típica das adolescentes japonesas. Pobre Himawari! Aparecem, numa montagem elíptica, algumas das outras personagens, como a Zashiki Warashi ou a Neko-musume. Infelizmente não há bichos ou monstros, a começar pela Mokona, mas eu percebo que corriam o risco de infantilizar o filme se o fizessem.

O tom do filme é outro o que também significou que as cenas divertidas com a Yuuko bêbada, por exemplo, ou a abusar da boa vontade do Watanuki, ou o Watanuki a ter ataques de ciúmes por causa da Himawari, não apareceram vezes suficientes.

Também gostei mais da banda-sonora do filme, mesmo sem ter um tema marcante, comparando com a série anime. Só preferia que fosse menos música de sintetizador, mas gostei das composições.

Os efeitos especiais são quase todos práticos, excepto as borboletas e pouco mais, que são digitais.

Ah, tenho de falar da tradução. A tradução inglesa, na cópia, era sem sal mas competente. Já a tradução portuguesa, em legendagem electrónica, que miséria... sempre que olhava para lá, sentia vergonha alheira. "Auto-indulgência"? 😆

No geral é um bom filme, uma boa interpretação do universo das CLAMP de encher o olho. Dos que vi da Mika Ninagawa, ainda prefiro o Sakuran!, pois é mais coeso.


映画 『×××HOLiC』

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