25.11.23

Ace o Nerae!

Ace o Nerae! é um anime outonal. Até pode passar-se na Primavera, Verão ou Inverno, mas é cheio de cores quentes, laranjas, vermelhos, castanhos. Quase todas as cenas exteriores passam-se ao pôr do sol, o que também contribui para o ambiente outonal.


Mas vamos ao que interessa, uma das minhas introduções ao sports anime, junto com Captain Tsubasa e Attacker You!, e talvez a minha preferida das três. O que gosto nos sports anime é a saga de esforço por que os protagonistas passam, constantemente a tentar ultrapassar os seus limites ao ponto de quase ganharem poderes sobrenaturais. Em Ace o Nerae! os serviços têm nomes como "bullet serve" ou "tornado ball", etc. Tipicamente, sempre que surge uma adversária com uma dessas técnicas muito gráficas, já sabemos que primeiro, Hiromi, a nossa protagonista, vai pensar em desistir, por duvidar das próprias capacidades, depois vai treinar sozinha, fora de horas, para ter algum encontro imediato, amigo ou inimigo, que a faz chegar ao jogo determinada, ganhando alguma vantagem com essa determinação, mas logo a seguir é arrasada ao ponto da exaustão quando, de um olhar do treinador ou outro incentivo para nós insignificante, reúne forças do nada e arrasa o oponente. Naturalmente, cada rival que se segue é mais poderoso e intimidador que o anterior, mas assim Hiromi vai superando cada obstáculo, tornando-se ela uma tenista feroz, capaz de intimidar também o rival mais assustador.

Sim, Ace o Nerae! segue uma fórmula, mas tem mais densidade que isso. Hiromi é uma rapariga simples, por quem ninguém dá nada, que vive um dia a dia banal. Apaixona-se pelo ténis ao ver a elegante Reika Ryuuzaki, a Ochoufujin, ou Madame Butterfly, a jogar. Só quando o recém-chegado treinador Jin Munakata, com uma metodologia singular, a coloca em destaque, é que Hiromi se revela uma tenista com valor próprio. Ao longo da série e ao defrontar as rivais com honestidade, vai fazendo mais amigos que inimigos, mesmo que pelo meio tenha pisado alguns calos.

Para além do percurso emocional intenso de Hiromi e das outras tenistas, cada uma com algum tipo de drama por trás, o que me chamou para esta série, quando a vi a primeira vez, foi o estilo de realização do lendário Osamu Dezaki. Na realidade, não foi Ace o Nerae! que vi há uns anos na RTP 2 ou no Canal Panda ou equivalente. Foi numa época do início da TV Cabo, quando, para além do Panda, havia uma série de canais da América Latina, que passavam muito anime, sobretudo dos anos 70 e 80. O que presumo que vi foi Ace o Nerae! 2, pois lembro-me da mudança de treinador. Mas sobre Ace o Nerae! 2 falarei em breve. Até tenho um post sobre uma tentativa de rever ou ver a série neste blog, mas ficou, como muitas, pendurada por alguma razão. Bom foi desta!

Osamu Dezaki. Um dos grandes realizadores de anime dos anos 70 e 80, que colaborou com frequência com o meu herói Shingo Araki, como character designer, que infelizmente não colaborou nesta série. Mesmo assim, dentro de um estilo muito simplificado e nem sempre o mais consistente, gosto imenso do character design adoptado, bastante próximo da manga. Dezaki é o criador daqueles planos "congelados", cheios de raios à volta, onde o desenho passa a um "estado" mais elaborado, com acabamentos a lápis de cor ou aguarela,  para reforçar algum momento chave do episódio ou da série. Li algures há muitos anos que Dezaki inventou este método por via da necessidade, já que animar um plano ou cena completa de forma mais dramática levava muito tempo e saía mais caro. Assim destaca-se esse momento, por exemplo a primeira vez que vemos Ochoufujin, onde é destacada a sua beleza e elegância no tratamento manual e texturado do seu plano congelado. Também gosto como o desenho é reduzido ao mais importante, representando o público ou os figurantes por um contorno pintado a aguarela, às vezes sem face, ou apenas os olhos vazados. Os olhos vazados são outra característica estética do anime shoujo dos anos 70 que adoro, apetece fazer print screens e imprimir em t-shirts!

Como disse acima, a série segue as provações de Hiromi para progredir no ténis, nas mãos do seu Oni Coach (Treinador Demónio), durante o ensino secundário. É uma série empolgante, sobre um desporto interessante e apelativo, com uma protagonista que faz a ligação ao espectador na sua simplicidade banal. Fora Hiromi e Jin Munakata, um homem de vinte e tal anos, rígido e enigmático, pouco ficamos a saber das outras personagens, fora a sua respectiva paixão pelo ténis e, no caso de Todo, por Hiromi também. Mesmo assim, nunca vemos nem ouvimos os pais de Hiromi e o máximo que vemos da sua casa é o quarto e o ofuro (banheira). Até vemos mais da casa de Reika. Hiromi tem um gato preto, Goemon, que parece um cão e que é muito mal tratado, como se fosse um boneco de peluche, coitadinho! É curioso perceber que Hiromi, um bocado maria-rapaz, desperta a inveja das raparigas, mas atrai os rapazes. Todo é o que mais se aproxima dela, mas Chiba, outro tenista, e Kimura, o repórter da escola, também ficam logo fascinados por Hiromi.

Há pelo menos mais 3 séries, fiquei um bocado confusa, pois pelos vistos há uma que não tenho, Shin Ace o Nerae!, que é um remake, depois Ace o Nerae! 2 e Ace o Nerae! Final Stage, um filme curto, que saiu após o remake, e ainda a série live-action, de que já falei aqui e que adorei. Já estou a ver Ace o Nerae! 2, pelo que haverá um post em breve.

「エースをねらえ」「新 エースをねらえ」

 


9.11.23

Kurage Hime

Era uma vez, há muito, muito tempo, provavelmente quando Kurage Hime foi lançada, e nos primórdios deste blogue, um conhecido, na altura novato destas andanças do anime, falou-me entusiasmado desta série.

Como ainda era uma época em que arranjar certas séries online não era fácil, e porque a minha lista de séries a ver já era longa, ficou o título e a premissa, mas não fiz grande coisa para a arranjar e ver.

Entretanto comecei a ler a scanlation da manga (que quero adquirir porque estou a adorar! - mas já lá vamos) e arranjei a série, com o compromisso de só ver depois de terminar a manga. Bom, não terminei de ler a manga, mas estou bem mais adiantada na narrativa que o anime, e decidi vê-la finalmente agora que voltei a ver anime com regularidade.

Não percebendo bem porquê, tenho sentido o shoujo a entrar em decadência e, salvo umas poucas excepções, como Card Captor Sakura, quase tudo que aparece novo é mais do mesmo. É uma pena, é a minha demografia de eleição na manga e anime, embora também goste de shounen e de outras demografias que já li e vi. No fundo, no fundo, ainda sou uma adolescente na alma e quero que ma alimentem! Esta tendência não é nova, mas Kurage Hime é um verdadeiro shoujo, à antiga! E ainda por cima comédia.

Inclui todos os clichés de uma boa historia de Pigmalião, uma rapariga interessante, mas a precisar de uma recauchutagem, um rapaz sem grande coisa que fazer, que se apaixona e quer recauchutar a rapariga (e outras coisas também, calculo), milionários contra pessoas de classe média, pessoas fashion contra pessoas que mal saem de casa, a tradição contra o progresso, o social contra o antisocial e... alforrecas!

Sempre gostei de alforrecas, embora saiba muito pouco acerca deste animal muito exótico e belo. Tinha todos os ingredientes para me chamar a atenção.

Em cima disto tudo, o character design e gráficos são muito bonitos e detalhados, e ligeiramente fora da norma anónima do costume. A autora tem um estilo muito próprio.


Como disse acima, na manga a história vai muito além do anime. Sem fazer spoilers, como coleccionadora de bonecas Blythe não posso deixar de mencionar que há uma personagem em Kurage Hime que não só tem uma boa colecção de Blythes, como lhes faz o guarda-roupa! Como se não bastasse Kurage Hime ser um shoujo à séria, comédia e com um design super apelativo, ainda tem uma personagem que basicamente sou eu!

Kurage Hime tem dois protagonistas muito apelativos, cheios de qualidades e defeitos, que são muito bem explorados para a comédia. O ritmo é perfeito e as outras personagens complementam muito bem a narrativa no seu exagero.
Com as habitantes da Amamizukan e a família de Kuranosuke, vemos um pouco do lado "otaku" e mais íntimo da política do Japão, satirizado no seu melhor através dos contrastes. É raro ver este tipo de autocrítica ou de satirizar da sociedade moderna japonesa, incluindo o que normalmente é varrido para debaixo do tapete, como pessoas socialmente desajustadas ou segregadas e a corrupção política.
E depois ficamos imediatamente do lado de Kuranosuke e de Tsukimi, queremos salvar a Amamizukan e vê-los a ter sucesso no mundo da moda.
Mas isso terá de ficar para a manga e eventualmente para o dorama, que soube há pouco existir. Tenho de ver!

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