26.11.08

Entrevista sobre Sailormoon com Naoko Takeuchi

Mais ou menos na altura da sua publicação (1998), li na revista sobre anime online EX: The Online World of Anime & Manga uma pequena mas esclarecedora entrevista que Naoko Takeuchi deu, logo após a publicação do último volume da sua manga Sailormoon (18º), acerca da série numa convenção nos Estados Unidos. Hoje voltei, após 10 anos, a esbarrar com a mesma entrevista e, arriscando-me a chatear o autor, Charles McCarter, resolvi traduzi-la e publicá-la no Anime-Comic. Fi-lo essencialmente porque a entrevista clarifica aspectos importantes da manga e acho que o público português, por vezes induzido em erro com boatos de internet, acaba por ficar com algumas dúvidas ou criar mal entendidos por causa dos mesmos.

O original da entrevista, em inglês, pode ser lido aqui:
Public Interview with Naoko Takeuchi, by Charles McCarter (EX)



CHAMAM-LHE TAKEUCHI NAOKO
—por Charles McCarter

A Comic Con International deste ano teve a presença de mais uma personalidade notória do anime. A criadora da fenomenalmente popular Sailormoon, Naoko Takeuchi foi trazida do Japão para uma rara presença pessoal pela Mixx Entertainment.

Apesar de a Srª. Takeuchi só ter tido a possibilidade de participar na convenção nos dois primeiros dias, o seu impacto foi sentido de imediato. Multidões vestidas como as suas personagens favoritas de Sailormoon andavam pelos salões, fizeram fila para obter um autógrafo e para participar na sua única conferência na Comic Con.

Levou quase 20 minutos para os fãs entrar na única fila para a sala e se sentarem. Após a multidão se ter acalmado, a Srª Takeuchi entrou recebida com aplausos retumbantes. Então, após alguma confusão inicial e problemas técnicos, a conferência começou. Foi essencialmente uma longa sessão de perguntas e respostas. Aqui estão a maioria das perguntas feitas à Srª Takeuchi, e as suas respostas.

P: Como chegou à ideia para Sailormoon?
NT: Conversava com os meus editores a tentar decidir uma história, quando mencionei que era fã das séries sentai [séries de equipas de super-heróis]. Decidi que queria criar uma série com um grupo exclusivamente feminino.

P: O que acha de Sailormoon ser chamada de "um tipo novo de desenho-animado para raparigas"?
NT: No Japão, existe imenso anime especificamente para raparigas. Gostava de ver esta tendência espalhar-se por todo o mundo.

P: A Sailormoon vai continuar?
NT: A manga de Sailormoon termina no volume 18. Acabou, não vai haver mais.

P: Haverá alguma vez Sailors masculinos?
NT: As Guerreiras Sailor [Navegantes] são apenas raparigas.

P: O que influênciou a sua criação de Sailormoon?
NT: No Japão, as raparigas das escolas preparatória e secundária vestem o sailor-fuku [uniforme escolar de marinheiro], portanto estas roupas são um símbolo geralmente reconhecido para as jovens raparigas. Queria torná-la numa super-heroína que tivesse a ver com toda a gente. E muitos rapazes japoneses gostam muito desses uniformes. (risos)

P: Se fosse uma das Guerreiras Sailor, qual delas seria e porquê?
NT: Seria Sailormoon, porque quando criei a personagem, ela estava próxima da minha personalidade.

P: Existe alguma controvérsia acerca da personagem Haruka. Ela era um homem que se transformou numa mulher quando se tornou Sailor Uranus?
NT: A Haruka sempre foi uma rapariga. E sempre o será. Quanto às Starlights, na manga elas sempre foram raparigas. Mas, no anime, foram transformadas em rapazes, e eu não fiquei muito satisfeita com isso.

P: Vai haver algum filme Starlight ou OVAs?
NT: Também quero que façam isso!

P: A Sailor Uranus e a Sailor Neptune são amantes? Se são, porque escreveu a história assim?
NT: Sim, são amantes. A razão é porque ligam bem. Neptune é muito menina e feminina enquanto que a Uranus é maria-rapaz e tem um coração masculino. E naquelas idades as raparigas são muito emotivas. (pausa) E comparando com as outras cinco, elas têm mais tempo livre. (risos)

P: Porque não existe uma Sailor Earth [Terra]?
NT: O Tuxedo Mask [Mascarado] toma o lugar de uma Sailor Earth.

P: Porque estão a Sailormoon e a Sailor Mars sempre a discutir?
NT: Porque são muito boas amigas. São tão amigas que discutem o tempo todo.

P: Sempre quis ser artista?
NT: No Japão é muito comum as crianças quererem ser artistas quando crescerem. Sempre foi o meu sonho desde pequena.

P: Porque é que a manga Sailormoon, dirigida a jovens raparigas, é tão popular com tipos mais velhos?
NT: Porque tem muitas raparigas giras e sexy. (risos)

P: No que está a trabalhar agora?
NT: Ainda estou a tentar decidir o meu próximo projecto. Gostava de fazer algo com magia.

No fim da conferência, a Srª Takeuchi posou para fotografias com alguns dos seus fãs vestidos como as personagens, e depois teve de ir a correr para baixo para a sua sessão de autógrafos.

De notar que não utilizei as traduções de nomes e outros da dobragem portuguesa, porque em geral estão mal traduzidos ou aportuguesados, aspecto com o qual não concordo. Mas, para a compreensão geral, coloquei entre [] o seu equivalente.

23.11.08

Terminei de ver: Onegai My Melody



Já acabou... Definitivamente, dentro deste estilo de série anime, esta é talvez uma das melhores, o que é surpreendente para um anime motivado por uma mascote de merchandising. A história desenvolveu-se de forma escorreita, sem episódios de recapitulação ou para encher, com boa animação e character design e com alguns desenvolvimentos dramáticos interessantes.

Uma das coisas diferentes e engraçadas nesta série é logo a personagem My Melody. Ao contrário do que aparenta à primeira, My Melody realmente é kawaii em doses XL, mas ao mesmo tempo é tão desligada e por vezes até parva que torna certas situações hilariantes. Uma das coisas que esta série tem, e que me faz gostar de anime em geral, é a conjugação estranha de momentos de humor tolo em situações de grande dramatismo. Até ao fim, e principalmente no clímax final, Onegai My Melody brinda-nos com esses momentos, muito bem orquestrados, de modo a não se sobreporem à história principal, o que torna esta série à partida 100% cor-de-rosa numa série com muitas outras e bem interessantes cores.

Os seres humanos são bem caracterizados, sem exageros e cumprindo certas regras maniqueístas do género e ao mesmo tempo aceitando, muito à japonesa, os factores "estranhos" e integrando-os naturalmente no seu dia-a-dia.

Espero que o Canal Panda compre as outras séries (são mais 4), pois esta claramente deixou coisas para acontecer e provou que vale a pena.

テレビ大阪  おねがいマイメロディ

Canal Panda

21.11.08

Fullmetal Alchemist

Estreou hoje (com dois episódios) Fullmetal Achemist, uma nova série na SIC-Radical. Não querendo estabelecer comparações, esta é uma série muito no género de Orphen, que mistura vários factores místicos e visuais da Europa medieval ou renascentista e lhes dá, através de uma reinterpretação de conhecimentos, neste caso de alquimia, química e outros novos poderes em novas situações.

Pelo que vi, e daí não querer comparar, é uma boa série, mais interessante que Orphen, nestes dois primeiros episódios não vi o suficiente para me fidelizar, mas a série tem 51 episódios, portanto o ritmo é mais lento.

Gostei da premissa de cada um ser Deus, no sentido de que cada um pode decidir o seu caminho, e de ao mesmo tempo se mexeres em coisas divinas (proibidas) serás castigado, no equilíbrio é que está a virtude. Não é propriamente uma temática nova ou original, mas é forte e tem muitas bases para se poder desenvolver uma boa história.

Nos próximos dias vou tentar acompanhar, logo vejo se a vejo toda, mas se a SIC-Radical fizer como fez com Naruto (está a passar no mesmo horário), com um episódio novo em cada dia de semana, os 51 episódios vêm-se em cerca de dois meses, o que não é assim tanto.

鋼の錬金術師 公式ホームページ

SIC-Radical
2ª - 6ª: 19:30
dom. : 10:15 (compacto)

14.11.08

Comecei a ver: Michiko to Hatchin

É quase caso para dizer finalmente, pois a série que eu esperava com maior antecipação da nova estação já estreou há mais de um mês!

Quando vi o trailer desta série, ainda no Verão, só pensei: "Isto parece um filme de Quentin Tarantino com Robert Rodriguez, versão anime, no Brasil e produzido pela Manglobe!", isto tudo com os olhos arregalados de entusiasmo. Está aqui uma boa e invulgar conjugação de elementos.

O trailer prometia acção e, o primeiro episódio, mesmo antes do genérico dá-nos acção digna do último James Bond! Aliás Michiko lembra a Camille de Quantum of Solace, mas já lá vou! O genérico, bem ao estilo da Manglobe, faz-nos lembrar o genérico de Cowboy Bebop no seu estilo gráfico-pop e com a sua música drum & base. O facto de fazer lembrar Cowboy Bebop não desmerece este genérico que é absolutamente maravilhoso e há de ficar também na memória. Naturalmente que apenas no primeiro episódio, temos pouca noção do que aí vem em termos de história (não em termos de acção, que essa promete e muita!), mas apresentou-nos as personagens, Michiko, uma bandida implacável, morena boazona, que vive descascada, como boa brasileira-morena-boazona que é, e Hatchin a miúda órfã, quase coitadinha, mas que tem personalidade suficiente para se rebelar e não se conformar ao seu injusto destino.

Michiko to Hachin, ou então Michiko e Hatchin, mostra-nos um Brasil idealizado (não idealista) que é um misto das paisagens de sonho e miséria terceiro-mundista que, certamente não corresponde à realidade (espero bem que não!). Mas visualmente os autores, seguindo uma interessante pesquisa, criam um universo ficcional meio realista, meio retro, muitíssimo rico, pormenorizado e interessante, que é um regalo para os olhos. O character design é fantástico, mostrando-nos uma Michiko que é uma personificação da gaja-boa brasileira, de pele morena, lábios carnudos, cabelo escuro (mas liso), com roupas reduzidas e cheia de dourados! Eu bem disse que fazia lembrar a Camille, se bem que Camille é um pouco menos chunga. No lado oposto temos uma Hatchin um tanto caricaturada, versão infantil exagerada de uma miúda franzina com excesso de cabelo. Será que os totós e laços da órfã são uma homenagem subliminar a Candy Candy???

Claro que temos incoerências sociais, a miséria apresentada é exagerada, as instituições são antiquadas, os carros da polícia ainda são Carochas (o Brasil foi um dos últimos países do mundo a deixar de fabricar estes carros) e o padre é casado! Acho que os japoneses precisam de ver mais telenovelas! Por falar em novelas, estava a dar uma na televisão da sala do padre, heheee! A mota, que faz lembrar uma Vespa, versão II Guerra Mundial alterada, é simplesmente fa-bu-lo-sa!!!!! Também, para variar, temos a introdução num universo latino-americano, de pequenos pormenores nipónicos, como nomes japoneses, Hatchin a lavar o chão de joelhos, por oposição à esfregona, o café da manhã sem café e com omelete, ou as portas de correr e o ar oriental do banco que Michiko assalta.

A animação é de primeira qualidade, nem parece que estamos a ver uma série de TV. A Manglobe não desilude e mantém a fasquia alta, o que nos proporciona um visionamento muito mais interessante. É uma animação fluida e muito dinâmica, que torna as sequências de acção, se nada mais, obrigatórias de ver.

Gostei muito das vozes tanto de Michiko, muito grave, ligeiramente nasalada, mas muito feminina, como a de Hatchin, jovem mas sem ser infantil ou infantilizada. Neste anime não há lugar para vozes esganiçadas ou em falsete, como é habitual. É engraçado reparar que, em geral, acertam na pronúncia brasileira... Os nomes, dos locais e pessoas, é que são um tanto estranhos, e há um errozito ortográfico aqui e ali, mas nada de extraordinário.

Estou entusiasmada, não estou? Pois é, é que este anime prometia muito e o primeiro episódio está a léguas de desiludir. Ainda por cima com o selo de garantia da Manglobe, equipa que se formou com a série Cowboy Bebop, com Shinichiro Watanabe a liderar as hostes, e que criou na Manglobe Samurai Champloo e Afro Samurai, duas séries invulgares e muito interessantes que têm em comum com esta a mistura incoerente de aspectos tradicionais com um modernismo retro-funk, mas que resulta! Com uma banda-sonora que vai entre o jazz, o funk, o hip-hop e, claro, a bossa-nova, na pior das hipóteses esta é uma série divertida e bem animada.

ミチコと八チン

12.11.08

Toki o Kakeru Shoujo

Makoto é uma rapariga comum que se vê envolvida numa estranha situação em que pode dar saltos no tempo. Com esta premissa tão simples temos em Toki o Kakeru Shoujo (A Rapariga que Salta no Tempo) um excelente filme que merece toda a fama que tem adquirido desde que foi lançado.

Para além de Makoto temos os seus dois melhores amigos, Chiaki e Kousuke, com quem joga catch ball todos os dias, a sua amiga Yuri e, claro a família. De forma não-linear o filme conta-nos cerca de uma semana da vida de Makoto, desde a saída apressada de bicicleta para a escola, adormecer nas aulas, as tarefas após as aulas, o jogo com os dois rapazes, preguiçar em casa. O que acontece é que, graças a um acidente, Makoto descobre que pode "navegar" no tempo à descrição, através de saltos. Com isso Makoto vai "ajustando" os seus dias, corrigindo erros, mudando pequenas situações, etc. Mas, é óbvio, saltar no tempo não se faz sem as suas consequências.

Para começar, a narrativa relativamente complexa deste filme está extremamente bem construída e sem buracos. É muito fácil numa história que envolve saltos no tempo e a não-linearidade cair em erros de pormenor que estragam o fluir geral, mas neste caso a história é estanque, sem falhas e bem estruturada. Depois vem o excelente nível da animação, que surpreende a cada momento. Não segue as habituais regras para poupar tempo do anime, com longos movimentos de câmara sobre imagens paradas das personagens, muito pelo contrário, cada cena e cada plano é soberbamente animado, cheio de dinamismo, com um detalhe que ganha maior relevo na simplicidade do desenho de personagens. O desenho de personagens é simples, num estilo bastante "ghibliesco" mas mais detalhado, moderno, e muito expressivo. Os cenários também partilham essa característica "ghibliesca" [boa, usei o palavrão duas vezes!] sendo lindíssimos, em particular a casa de Makoto, e muito detalhados, mantendo o realismo da paisagem urbana japonesa. Os poucos 3D existentes estão perfeitamente integrados e só são utilizados como efeito especial.

Já me esquecia de falar da banda-sonora que, não sendo particularmente marcante ou espectacular e sendo constituída por uma conjugação de várias melodias pré-existentes, é uma banda-sonora realista, que apoia a história, de forma discreta e agradável, sem se sobrepor ou destacar. É daquelas bandas-sonoras que não faz multidões saírem para comprar o CD, mas que encaixa no filme na perfeição.

Num filme tecnicamente tão bem conseguido, aliado a uma história muito bem estruturada e emocionante, com reviravoltas surpreendentes sem cair no lugar-comum, deixamo-nos levar, guiados por Makoto, torcendo por ela e desejando a mudança prometida. Toki o Kakeru Shoujo é um filme de sobre o amadurecimento com um toque de fantasia, mantendo "a cabeça no céu e os pés na terra", utilizando as doses certas de realismo e fantasia para nos deixar com uma sensação agradável da satisfação de ter visto um excelente filme com cheiro a Verão.

La Traversée du Temps - Le film [FR]
The Girl Who Leapt Through Time [EN]
時をかける少女 [JP]

11.11.08

Demashitaa! Powerpuff Girls Z

Já tinha visto excertos desta série quando ela estreou no Japão, em parte porque adoro as Powerpuff Girls originais, mas já naquela altura não me entusiasmei por aí além com esta série. Mas hoje apanhei o que penso ter sido o primeiro episódio na RTP2, sob o título Superpoderosas, e até achei alguma graça.

Basicamente os japoneses agarraram num produto que já era muito "japonês" à partida e encaixaram-no naquele modelo de anime para raparigas pré-adolescentes com poderes fantásticos, isto é o mahou shoujo. Dentro deste género especificamente têm sido produzidas imensas séries de que tenho falado bastante aqui, não fosse eu fã de mahou shoujo, a começar com Card Captor Sakura, continuando por Ojamajo Doremi, Kaitou St. Tail, Mirmo e, mais recentemente, Onegai My Melody.

O defeito é que esta série, que no orginal foi marcante nos desenhos animados norte-americanos pela sua originalidade, por um grafismo diferente e um target invulgar (raparigas), mantendo uma certa ironia e humor que não apela apenas a crianças, tornou-se, na versão japonesa, em mais uma série e nem sequer das melhores... Pior: transformaram a personagem mais popular e cool em pouco cool. Buttercup, a inconformada passou a ser uma banal maria-rapaz a queixar-se de ter de vestir saias. Pelo contrário, a detestável Blossom está kawaii e Bubbles, se bem que menos kawaii que no original continua igualmente engraçada. Também sinto falta dos cenários muito "design anos 60" da série original. As transformações das raparigas têm demasiadas poses e são muito confusas, o que não ajuda, pois as transformações costumam ser o selo de garantia neste tipo de séries.

Pelos vistos o ditado: "em equipa ganha não se mexe" não serve só para os remakes de anime norte-americanos, mas também para a situação inversa.

Mesmo assim, é mais um anime a dar nas televisões portuguesas, especialmente na RTP que nos últimos anos tem passado muito pouco, portanto só tenho que ficar contente com mais esta estreia.

出ましたっ! パワパフガールズZ
テレビ東京・あにてれ 出ましたっ!パワパフガールズZ
出ましたっ!パワパフガールズZ

RTP2
2ª - 6ª: cerca das 18:00

Terminei de ver: Bamboo Blade


Bamboo Blade é uma série que se vê bem, mas sem grandes emoções. Realmente não fora o meu interesse pelo kendo, talvez nem sequer tivesse sabido da existência dela. Mas, apesar de discreta, não é uma má série e, dentro do anime que não costumo ver, até que foi uma pequena surpresa.

A primeira grande qualidade de Bamboo Blade está no kendo. Todas as sequências, sejam elas de treino ou combates exaltados, demonstram uma pesquisa muito bem feita e um profundo conhecimento da arte marcial e do seu quotidiano no contexto de um clube de escola secundária japonesa. A animação é bem feita, as sequências bem coreografadas e não abusa do "efeito especial anime de desporto" (=raios luminosos, capacidade sobrehumanas, etc.), filmando o kendo como seria muito complicado de fazer em imagem real, mas mantendo um estilo realista. Aliás mal seria deles se representassem mal essa faceta, seja por o kendo ser considerada a arte marcial mais popular e nobre do Japão, seja pelo facto de ser um dos desportos mais praticados nas escolas secundárias japonesas.

A outra grande qualidade de Bamboo Blade é a analogia das 5 raparigas do Clube de Kendo da Escola Muroe a personagens de um supersentai (Red - Tama-chan, Yellow - Kirino, Blue - Saya, Pink/Black - Mya Mya, Green - Satorin) e a sua ligação ao fanatismo pelas mesmas de Tama-chan. Esse lado e todo o lado de comédia poderia ser mais explorado e ter piadas mais acutilantes, acabando por se contentar com um humor brando, que não vai muito além das paredes do dojo. É pena.
Fica a série dentro da série, o supersentai Blade Braver, com os Bravers (de onde se basearam os alter-egos das meninas), o anti-herói Shinaider e a sua sidekick Shinai Girl! Só os nomes valem a pena! Depois de vermos imagens de Blade Braver só dá para dizer: um sentai com o tema de kendo, como ainda não tinham pensado nisso??

A personagem de Tama-chan (Kawazoe Tamaki) é a mais explorada e a mais intrigante. Tamaki é uma rapariga tímida e introvertida, excepto quando pratica kendo onde é surpreendentemente invencível e feroz. Tama-chan vive num universo fechado, entre o dojo da família e as séries que grava religiosamente no gravador de DVDs e, com a inscrição no clube de kendo da escola, abre-se para travar amizade com os restantes colegas do clube. Não é grande aprofundamento, mas numa série de comédia temática bastante ligeira não deixa de ser um ponto interessante.

Ficam pequenas lembranças de momentos com alguma graça de um anime que mostra com bastante pormenor o quotidiano de uma escola secundária, um clube de kendo e as relações de amizade e rivalidade que se vão estabelecendo neste contexto.

TVアニメーション バンブーブレード
テレビ東京・あにてれ バンブーブレード

 

9.11.08

Ribbon no Kishi

Já li a manga! Nesta edição são 8 volumes fininhos, mas no original são apenas 3. Na realidade o que li foi a primeira versão da manga, de 1954, tendo Osamu Tezuka editado uma segunda versão mais tarde, 1963, uma revisão da mesma história. Em 1967 foi produzida uma série de anime, baseada na primeira versão da manga.

Ao criar esta manga, Tezuka criou um novo género e ditou as primeiras regras da manga shoujo. Uma delas e a mais original de todas, foi a ideia da princesa vestida de príncipe, retomada em várias manga shoujo famosas, nomeadamente Versailles no Bara e Shoujo Kakumei Utena. Essa ideia do travestismo no feminino vem do facto de Tezuka ter vivido em Takarazuka, uma pequena cidade anfitriã da antiga companhia Takarazuka Revue, com um elenco unicamente feminino que encena histórias românticas, clássicos da literatura e algumas manga, num formato de revista musical, com encenações kitsch e barrocas. A influência é de tal modo marcante que a própria manga Ribbon no Kishi foi encenada pela companhia, fechando o círculo.

Ribbon no Kishi conta a história da Princesa Sapphire que nasce com dois corações, um de menino e outro de menina, por causa de uma partida de um anjinho chamado Tink. No Reino de Prata, o reino de Sapphire, as mulheres estavam proibidas de suceder ao trono e por isso, apesar de nascer menina, Sapphire é criada como um rapaz em segredo. A história vai seguindo as várias peripécias, os esforços da princesa e de seus aliados em proteger o segredo do malvado Duque Duralmin, que quer que o seu filho Plastic suceda ao trono.

Esta é uma manga muito empolgante e divertida, onde a acção nunca pára, onde quando pensamos que Sapphire já está finalmente livre dos obstáculos aparece mais um ou um novo vilão e a sua vida volta a complicar-se e nunca mais ela consegue realizar os seus dois desejos mais profundos, que ainda por cima são contraditórios: ou assume a vida de um homem e herda o trono do seu amado reino, ou assume a vida de uma mulher e fica com o seu Príncipe Franz Charming, do Reino de Ouro.

Olhando para as manga shoujo de hoje, em particular para as duas mencionadas acima que também já li, fica muito claro que Ribbon no Kishi, não encaixando ainda no modo como a narrativa se desenrola no modelo que hoje dita o ritmo de uma narrativa dirigida a raparigas, ditou algumas regras fundamentais e recorrentes ao longo das já cinco décadas que se passaram. Ao contrário das manga dos anos 70, não se sente nesta tanto a influência de uma época, seja na história, seja no grafismo. Apesar de algumas ideias ligeiramente conservadoras, a manga é na sua essência bem progressista para a época e para uma manga desenhada por um homem. Sente-se muito mais a forte influência da Disney, de Hollywood e dos contos de fadas europeus, em particular os dos irmãos Grimm.

Acho que esta é das primeiras vezes que aqui escrevo acerca de manga, mas já queria ler esta há tantos anos e é realmente de tal forma um clássico marcante que tinha de o fazer! O mais engraçado disto tudo é que esta, que é uma manga dirigida ao público feminino, que deu origem a várias ideias recorrentes da manga shoujo, surge com um ritmo e narrativa essencialmente para rapazes, numa acção incessante onde o romantismo não se manifesta apenas no interesse amoroso ou na verbalização desse amor, mas na imagem idealizada do romântico príncipe encantado, que tudo faz para ficar com a sua princesa. Com este misto de estratagemas narrativos, creio que hoje em dia seja uma manga que facilmente agrada tanto a rapazes como raparigas. E não é definitivamente uma manga datada, o que é deveras surpreendente e dá com toda a justiça o título de "Deus da Manga" a Osamu Tezuka.

Graficamente esta manga é extremamente dinâmica e variada, não se cingindo à ideia de quadradinho após quadradinho, sendo todas as páginas muitíssimo bonitas e agradáveis de ler. Gosto muito do desenho de personagens de Tezuka, que apesar de apresentar um estilo um pouco retro, não é perro como por vezes são os primeiros títulos de um autor. Na longa carreira de Tezuka, que engloba 700 títulos de manga, Ribbon no Kishi pode ser considerada uma das primeiras, uma vez que ele começou a desenhar profissionalmente no pós-guerra, mas a arte gráfica é de tal modo perfeccionista como poucas manga, o traço seguro e consistente, não tendo oscilações, onde todas as páginas são um quadro equilibrado e muito bem concebido.

Agora quero mais!!!!

Quem estiver interessado na edição brasileira, que tem uma excelente relação qualidade-preço, pode dar uma olhadela ao site da Editora JBC. Se quiserem "folhear" a manga, isso é possível através do site oficial da Tezuka Productions que, por ocasião da comemoração dos 80 anos de Tezuka a 3 de Novembro, publicou gratuitamente excertos de muitos títulos online (é só clicar nas capas - estão lá ambas as versões).

Cosplay

Já não ia ao FIBDA (Festival de Banda Desenhada da Amadora) há cerca de 5-6 anos, eu que ia lá com regularidade quase todos os anos desde que o festival começou... Este ano, em parte por serem os 10 anos oficiais do cosplay (se bem que o cosplay no FIBDA tem, na realidade 11 anos, fui quem o organizou nesses dois anos), e também por causa do tema ser a ficção-científica e da exposição de Star Wars, este ano fui lá ver.

O espaço do festival estava engraçado, gostei deste edifício, o último onde estive não era adequado a um evento como este, e gostei da cenografia, por vezes demasiado realista nos corredores de nave espacial (demorei que tempos e mais umas voltas para encontrar a saída), mas foi pena o auditório ser tão minúsculo e não ser em anfiteatro. Conclusão: no desfile propriamente dito do cosplay só vi cabeças e pontas de chapéus e adereços (e eu sou alta!). Já cheguei a meio, portanto já não vi todos os cosplayers, mas no geral foi com imensa satisfação que vi tanta adesão a uma coisa que há 10-11 anos atrás foi mais "obrigar" uma meia-dúzia de fãs de anime com que me dava a se juntarem a mim a fazer triste figura pelas ruas de Lisboa e da Amadora (sim, o pessoal vestia-se em casa e ia em cosplay até lá), e a serem gozados pela mão-cheia de visitantes do FIBDA. Não há dúvida que as coisas mudaram radicalmente e, para além dos números se terem inflacionado umas 20 vezes, tive muita satisfação em ver uma percentagem muito grande de rapazes em cosplay.

Como disse, no meio de tanta confusão e de um espaço demasiado apertado para o cosplay, acabei por ver menos fatos do que gostaria. A vantagem foi que os poucos que vi foi mesmo de muito perto, o que deu para apreciar condignamente a qualidade. Do lado espectacular estava uma Queen Esther de Trinity Blood, cujo fato, além de extremamente trabalhoso e certamente caro, estava muito bem feito. Foi, sem dúvida o que mais chamou a atenção. Depois vi uma Sakura de Tsubasa, cujo fato estava muitíssimo bem feito e também era muito espectacular. O Yue de Card Captor Sakura também era muito chamatório mas não estava muito bem feito, tinha todos os elementos, certamente que as asas deram um trabalhão, mas falta-lhe técnica. Pelos corredores também me cruzei várias vezes com uma Shinku e uma Suigintou de Rozen Maiden, cujos fatos estavam, na minha opinião entre os melhores: os tecidos estavam muitíssimo bem escolhidos (veludo) super bem cortados e confeccionados e não lhes faltavam pormenores nenhuns. A única coisa que eu fazia era investir em perucas melhores, pois destoavam, apesar de cumprirem a sua função. Também me cruzei, mas já de raspão com uma Kaoru de Kenshin (o kimono azul com borboletas de uma ilustração) que estava também excelente, muitíssimo bem pintado, bons tecidos, bem vestido (acreditem: não é fácil vestir bem um kimono).

E por fim os Zorros e as Princesas do cosplay à portuguesa: fatos de Naruto e de Final Fantasy... eram tantos que dava para encenarem cenas inteiras das respectivas séries e jogos, ia era haver personagens repetidas, o que em Naruto não é grave...

Foi divertido, também gostei muito da exposição que foi um misto de viagem ao passado (Flash Gordon Valerian, José Ruy, etc.) com algumas coisas novas bastante interessantes. Não queria gastar dinheiro nas lojas por diversas razões, mas acabei por comprar os 8 volumes da edição brasileira de A Princesa e o Cavaleiro, de Osamu Tezuka, que já tinha namorado há anos na loja (na Feira da Ladra) e não tinha comprado. Para quem não saiba, A Princesa e o Cavaleiro (Ribbon no Kishi) foi a primeira manga shoujo da história e é actualmente uma raridade. A edição brasileira é simpática, não posso avaliar o texto pois ainda não li, mas está bem impressa e é bem barata (€1,50 cada). As edições brasileiras seguem o sistema italiano de livrinhos, mais finos que os tankoubons, mas a preços acessíveis. E a mim não me chateia nada ler em português do Brasil, mas claro que preferia em japonês.

PS - ainda faço cosplay, mas no Carnaval.

Cosplay@FIBDA 08 - Galeria oficial

esqueci-me da minha máquina, mas um amigo meu tirou algumas fotos, quando ele mas der eu coloco aqui uma ou duas.
22.04.2009: finalmente a foto prometida... a Queen Esther com uma outra personagem que desconheço.

4.11.08

Gedo Senki / Tales From Earthsea

Li os livros, Contos de Terramar, de Ursula K. LeGuin há bastantes anos, lembro-me de muito pouco dos livros, excepto das paisagens e da rapariga, de dragões e magia, e pouco mais... Mas a impressão que ficou foi muito boa, pelo que, quando Goro Miyazaki, filho de Hayao Miyazaki, resolve realizar este filme, adaptação dos livros de LeGuin, achei que aquele universo Ghibli e de Miyazaki (pai) se adequavam bastante ao que tinha lido.

Mal sabia eu o romance que se desenrolou por trás da execução deste filme. Desde o início da sua carreira que Hayao Miyazaki é fã confesso d'Os Contos de Terramar e tem vindo a assediar a sua autora para lhe ceder os direitos de adaptação ao cinema, direitos esses que Ursula LeGuin tem vindo a recusar durante muito tempo. Entretanto, impossibilitado de adaptar os livros, Miyazaki foi criando um universo cinematográfico, em muito semelhante ao dos livros de LeGuin, em particular em Nausicaa ou Laputa.

Hayao Miyazaki tornou-se num nome conceituado a nível mundial e Ursula LeGuin cedeu e convida-o a finalmente adaptar os seus livros. Mas já foi tarde demais e ele demonstra que perdeu o interesse. Mesmo assim a Ghibli compra os direitos e a produção do filme é iniciada. Desde o início que Goro Miyazaki, também colaborador da Ghibli mas que nunca realizara uma longa-metragem, se mostrou interessado em realizar este filme, mas o pai recusa a ideia afirmando que o filho é demasiado inexperiente e ainda não se encontra preparado para tal tarefa. O resultado: pai e filho zangam-se durante toda a produção de Gedo Senki.

Não sei os capítulos seguintes da novela Miyazaki, mas vi o filme. Foi-me um pouco difícil não passar o filme todo ora em busca de memórias dos livros de LeGuin, ora em busca de algum traço pessoal de Goro Miyazaki. Gedo Senki é um filme fantástico de aventuras bastante interessante, muitíssimo bem executado, não desmerecendo outros filmes dos estúdios Ghibli, mas que me deixou sempre a impressão de uma cópia bem feitinha dos filmes de Hayao Miyazaki.

Dos livros não houve remédio, relembrei-me de muito pouco, mas fiquei com a impressão de que não foi adaptada toda a história. Infelizmente os livros que li não eram meus, e não o posso verificar para já.

A realização de Goro Miyazaki é boa, competente, mas pouco inventiva ou empolgante como noutros filmes da Ghibli, mesmo os que não são do seu pai. Parece-me uma realização pobre, com um estilo demasiado banal, sustentada por uma equipa muitíssimo competente e determinada a que o filme não escorregue o tempo todo e que o consegue sustentar. Existe realmente uma grande disparidade entre a realização, que é tímida e pouco arrojada com uma máquina de produção, muitíssimo habituada a funcionar com filmes neste estilo, que vai agarrando as inseguranças de Goro Miyazaki pelos colarinhos com pulso forte, através de uma animação de primeira qualidade e cenários, mais uma vez, deslumbrantes. A única excepção fica no character design que é um bocado atarracado, demasiado colado ao que nos habituámos a ver nos filmes do seu pai e pouco interessante. Honestamente, estava à espera de mais.

A banda-sonora é que realmente varia, não sendo de Joe Hisaishi, não temos aquela familiaridade habitual, mas é bonita. Só tenho pena de às vezes ser um pouco em demasia, tornando-se intrusiva em momentos em que seria preferível o silêncio.

Gedo Senki é um filme interessante de ver mas não surpreendente, transparece a batalha travada entre um realizador inexperiente e com pulso fraco contra uma gigantesca máquina de produção. Vale pelos magníficos momentos na cidade, pelas imagens do porto e a detalhada arquitectura medieval-europeia. A história está bem contada mas podia ter mais reviravoltas e ser mais emocionante. Os livros são grandes, contam diversas fases de uma história, com bastante detalhe, e já se sabe: enfiar o Rossio na R. da Betesga é muito complicado. Talvez o projecto tenha sido demasiado ambicioso para alguém que deve andar a sonhar em sair debaixo da sombra paterna.

Os livros Contos de Terramar estão editado pelos Livros do Brasil em três volumes, colecção ficção-científica de bolso (são aqueles pequeninos, baratinhos).
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