24.7.12

Terminei de ver: Glass no Kamen (2005)


Há muito que não terminava uma série de anime com esta sensação, uma sensação de leveza e de ressaca de emoções fortes... Acho que a última vez que me senti assim foi ao ver as quatro primeiras séries modernas de Doctor Who. Ah Russel T Davies, és definitivamente um dos meus heróis! Se Glass no Kamen já era uma série excelente na versão um pouco datada de 1984, a versão de 2005, retrabalhada de forma a destacar mais as personagens e limpa de maneirismos ou clichés, demonstra que é possível fazer remakes, melhor, segundas versões de histórias sem estragar mas sim melhorando actualizando-as. Depois de ver estas duas séries compreendo o clássico que Glass no Kamen é para a manga shoujo e definitivamente é uma prioridade na minha lista de mangas a ler.

Tive de fazer uma pausa forçada no visionamento desta série, computador pifado, trabalho, vida e a dificuldade em encontrar a segunda metade dos episódios, mas ultimamente andava mesmo com vontade de ver o resto e a altura não podia ser mais propícia. Apesar de a primeira metade da série se concentrar mais na aprendizagem no sentido académico de Maya e a segunda no amadurecimento como actriz e mulher, o que as destingue, a sensação que tive há quatro anos quando vi a primeira metade é a mesma mas mais intensa pois as emoções vão crescendo e intensificando-se.

Glass no Kamen de 2005 é uma série extremamente rica, com personagens muito humanas, mesmo que façam sacrifícios sobrehumanos, que nos levam numa montanha russa de sensações bastante rara na ficção moderna. Talvez o mérito esteja todo em Miuchi Suzue, a autora da longa e inacabada manga, mas também passa e muito pelos argumentistas da série, que raramente terminam um episódio sem ser em cliffhanger e que me fizeram ver vários episódios em catadupa, coisa que raramente faço. Nesta segunda metade sentimos Maya à altura da rival Ayumi, competindo de forma justa. O segundo genérico representa muitíssimo bem a sua história, de miúda talentosa que tem de lutar por um lugar ao Sol e de Ayumi, para sempre apaparicada mas determinada em encontrar a sua própria voz. De modos opostos as duas chegam ao mesmo objectivo, representar "Kurenai Tenyo" [A Deusa Escarlate], a mítica peça escrita para a mestra Chigusa Tsukikage. O esforço de ambas é igualmente válido e intenso e isso é reconhecido tanto pelas duas raparigas como rivais, como pelos colegas e Chigusa. Cabe a cada um escolher a versão que lhe assenta melhor.

Não deixa de ser interessante observar como as peças de teatro, sejam elas reais, Helen Keller, Sonho de uma Noite de Verão, ou fictícias, As Duas Rainhas, são instrumentos para fazer avançar a protagonista e de modo algum se tornam chatas por serem exploradas com bastante pormenor, em média 3 episódios por peça. Em cada peça coloca-se um novo desafio a Maya e por consequência a Ayumi, rival, e Hayami, interesse amoroso. A relação de Ayumi e Maya também não é a clássica relação menina-rica-e-cabra contra menina-pobre-e-boazinha, as duas respeitam-se e aprendem uma com a outra. Na fase das Duas Princesas até se ajudam mutuamente.

O modo como a relação de Maya e Hayami se desenrola é uma peça importantíssima da história e adiciona-lhe uma intensidade do shoujo clássico dos anos 70, sem o lado piroso e sentimentalão que foi eliminado nesta versão. O modo como a verdadeira identidade de Hayami é revelada, para além de ser um dos maiores cliffhangers da série, é inteligente e muito credível, sem recorrer a subterfúgios narrativos gratuitos e leva Maya a tomar decisões fulcrais na sua vida. Maya cresce incrivelmente nesta segunda metade em muito devido à sua relação com ele.

Glass no Kamen é uma série que não se compreende como passou tão despercebida, pois não há série moe ou afins que lhe chegue aos calcanhares. Hoje em dia já não se podem comparar as séries em termos técnicos, pois os computadores vieram facilitar uma boa execução e raramente se vêm séries mal produzidas ou baratas, porque o orçamento não chegou. O que valoriza uma série é a sua história, personagens bem construídas e eventualmente se a estética visual e sonora agrada ao espectador. Isto comprova que o que tem verdadeirmente valor é universal e não vai em modas. É pena que por vezes passe despercebido.

Continua a ser um mistério para mim como é que os japoneses conseguem emocionar-me desta forma que a ficção Ocidental raramente consegue. Talvez deva permanecer um mistério para eu continuar a ter esta sensação. Felizmente Glass no Kamen não acaba por aqui, há os OAVs dos anos 80, de que já vi pelo menos um, e a série live-action. Por fim há os 48 volumes da manga que seguramente vão saber a pouco, nem que seja porque é uma incógnita se Miuchi Suzue algum dia a terminará.

ガラスの仮面

RAW

2 comentários:

Julia disse...

Oi! Gostaria de saber se vc pode informar o link ou onde consigo comprar o anime Glass no Kamen. Começei a ver a série, mas o único site q encontrei não tem mais episódio depois do 15.

Misato disse...

Vi em japonês e agradecia que não me fizessem esse tipo de pedidos (de qualquer modo já não sei onde arranjei).

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...