4.11.08

Gedo Senki / Tales From Earthsea

Li os livros, Contos de Terramar, de Ursula K. LeGuin há bastantes anos, lembro-me de muito pouco dos livros, excepto das paisagens e da rapariga, de dragões e magia, e pouco mais... Mas a impressão que ficou foi muito boa, pelo que, quando Goro Miyazaki, filho de Hayao Miyazaki, resolve realizar este filme, adaptação dos livros de LeGuin, achei que aquele universo Ghibli e de Miyazaki (pai) se adequavam bastante ao que tinha lido.

Mal sabia eu o romance que se desenrolou por trás da execução deste filme. Desde o início da sua carreira que Hayao Miyazaki é fã confesso d'Os Contos de Terramar e tem vindo a assediar a sua autora para lhe ceder os direitos de adaptação ao cinema, direitos esses que Ursula LeGuin tem vindo a recusar durante muito tempo. Entretanto, impossibilitado de adaptar os livros, Miyazaki foi criando um universo cinematográfico, em muito semelhante ao dos livros de LeGuin, em particular em Nausicaa ou Laputa.

Hayao Miyazaki tornou-se num nome conceituado a nível mundial e Ursula LeGuin cedeu e convida-o a finalmente adaptar os seus livros. Mas já foi tarde demais e ele demonstra que perdeu o interesse. Mesmo assim a Ghibli compra os direitos e a produção do filme é iniciada. Desde o início que Goro Miyazaki, também colaborador da Ghibli mas que nunca realizara uma longa-metragem, se mostrou interessado em realizar este filme, mas o pai recusa a ideia afirmando que o filho é demasiado inexperiente e ainda não se encontra preparado para tal tarefa. O resultado: pai e filho zangam-se durante toda a produção de Gedo Senki.

Não sei os capítulos seguintes da novela Miyazaki, mas vi o filme. Foi-me um pouco difícil não passar o filme todo ora em busca de memórias dos livros de LeGuin, ora em busca de algum traço pessoal de Goro Miyazaki. Gedo Senki é um filme fantástico de aventuras bastante interessante, muitíssimo bem executado, não desmerecendo outros filmes dos estúdios Ghibli, mas que me deixou sempre a impressão de uma cópia bem feitinha dos filmes de Hayao Miyazaki.

Dos livros não houve remédio, relembrei-me de muito pouco, mas fiquei com a impressão de que não foi adaptada toda a história. Infelizmente os livros que li não eram meus, e não o posso verificar para já.

A realização de Goro Miyazaki é boa, competente, mas pouco inventiva ou empolgante como noutros filmes da Ghibli, mesmo os que não são do seu pai. Parece-me uma realização pobre, com um estilo demasiado banal, sustentada por uma equipa muitíssimo competente e determinada a que o filme não escorregue o tempo todo e que o consegue sustentar. Existe realmente uma grande disparidade entre a realização, que é tímida e pouco arrojada com uma máquina de produção, muitíssimo habituada a funcionar com filmes neste estilo, que vai agarrando as inseguranças de Goro Miyazaki pelos colarinhos com pulso forte, através de uma animação de primeira qualidade e cenários, mais uma vez, deslumbrantes. A única excepção fica no character design que é um bocado atarracado, demasiado colado ao que nos habituámos a ver nos filmes do seu pai e pouco interessante. Honestamente, estava à espera de mais.

A banda-sonora é que realmente varia, não sendo de Joe Hisaishi, não temos aquela familiaridade habitual, mas é bonita. Só tenho pena de às vezes ser um pouco em demasia, tornando-se intrusiva em momentos em que seria preferível o silêncio.

Gedo Senki é um filme interessante de ver mas não surpreendente, transparece a batalha travada entre um realizador inexperiente e com pulso fraco contra uma gigantesca máquina de produção. Vale pelos magníficos momentos na cidade, pelas imagens do porto e a detalhada arquitectura medieval-europeia. A história está bem contada mas podia ter mais reviravoltas e ser mais emocionante. Os livros são grandes, contam diversas fases de uma história, com bastante detalhe, e já se sabe: enfiar o Rossio na R. da Betesga é muito complicado. Talvez o projecto tenha sido demasiado ambicioso para alguém que deve andar a sonhar em sair debaixo da sombra paterna.

Os livros Contos de Terramar estão editado pelos Livros do Brasil em três volumes, colecção ficção-científica de bolso (são aqueles pequeninos, baratinhos).

4 comentários:

Misato disse...

L.M.: para ti ou para qualquer outra pessoa, aconselho a ler os livros primeiro. E as razões são estas:
1. A edição portuguesa (3 volumes) é muito barata;
2. Os livros, para além de marcos na literatura fantástica, são bons;
3. Porque dificilmente o filme, que já não nada de extraordinário, conseguiria abordar em tão pouco tempo a riqueza dos livros.

Misato disse...

Excelente link!

É engraçado que, sabendo eu apenas parte da história de bastidores e não me lembrando bem dos livros, tenha dito em traços largos o mesmo que a autora! Isso só significa que a mensagem dela passou, mesmo que as memórias já estejam longínquas e esquecidas.

Com isto volto a recomendar os livros, o que também me deu mais vontade de os reler.

Paulo Morgado disse...

Há uma edição da PRESENÇA mais recente do que a da Argonauta e já com mais livros que os da trilogia original:

O Feiticeiro e a Sombra
Os Túmulos de Atuan
A Praia Mais Longínqua

Tehanu - O Nome da Estrela
Num Vento Diferente

http://www.wook.pt/product/facets?palavras=ursula+le+guin

Há ainda 7 contos neste unierso de Terramar que não sei se estão editados em Potuguês.

Mais info em http://en.wikipedia.org/wiki/Earthsea

L.S. Reis disse...

Acabei de assistir o filme, e gostei ^^ Não é um "Castelo Animado", se é que faz algum sentido comparar, mas é legal...
Adorei as informações do post, nem sabia que era inspirado em livros... Vou procurar me informar mais.
Abraço!

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