
Mas não se iludam os mais cépticos, esta é uma série de anime acerca de uma rapariga trapalhona e de um rapaz bonito e inteligente, cujo pano de fundo é a música clássica. Na realidade esta é a história de Nodame (Noda Megumi), uma rapariga trapalhona, desleixada com um ouvido musical excepcional e de Chiaki Shinichi um génio musical sobre-dotado, bonito e demasiado egoísta para seu próprio bem. Ao cruzar-se com Nodame, Chiaki treme até às fundações no seu carácter e na sua abordagem à música. Por mais improvável que o par seja, Chiaki fica impressionado com a espontaneidade com que Nodame toca o piano, por oposição à sua rigidez e exigência técnica. Nodame nem sequer sabe ler pautas, aliás característica dos "naturais" nesta série, e toca de ouvido. Ela não precisa de ouvir uma música mais que uma vez para a reproduzir extraordinariamente mas em versões muito pessoais que quase levam Chiaki à loucura. É na música que ambos encontram a sintonia, como aliás o demonstra a imagem — a primeira vez que tocam em dueto ao piano —, a rigidez e técnica de Chiaki compensam o improviso e emoção de Nodame e vice-versa, aproximando-os cada vez mais.
Como todas as séries saídas do Noitamina, Nodame Cantabile tem um cuidado técnico acima da média, mas no que Nodame é diferente é no uso da modelagem 3D e do rotoscópio para um maior rigor na representação e animação dos instrumentos musicais e das respectivas interpretações. Os instrumentos musicais são modelados em 3D e a animação das mãos do intérprete é feitas através de uma técnica chamada rotoscópio. Trata-se de filmar a cena em imagem real, por exemplo mãos a tocar piano, e depois redesenhar essa filmagem, fotograma a fotograma, em animação. Esta técnica dá um efeito realista ao movimento e torna-o também mais fluido. Os japoneses não fazem maravilhas com o 3D mas no caso de Nodame Cantabile aproveitam lindamente o que o 3D lhes pode oferecer de melhor para a animação dos instrumentos. Este cuidado com o rigor técnico musical inclui também, sempre que é tocada uma peça de música, uma legenda com o nome da peça e o autor da mesma, tornando-a também pedagógica.
Só é pena, mesmo muita pena, que a tradução continue a ser considerada um aspecto menor e seja muito aquém da série traduzida.
Erro nº 1: a tradutora deixou os honoríficos japoneses (os ~san, ~kun, ~chan, ~sama, etc.). Os honoríficos devem ser traduzidos sempre que isso for possível, no caso de ~san é utilizar Sr., Sra., etc. se for caso disso. Nunca esquecer que é normal que amigos ou colegas se tratem por ~san, portanto a palavra não implica forçosamente um tratamento formal. Portanto os honoríficos japoneses têm uma função ligeiramente diferente dos portugueses, servem para estabelecer o grau de formalidade da relação entre dois indivíduos. A razão é muito simples: um português que nunca tenha ouvido uma palavra de japonês não faz a mínima ideia do que seja ~san ou ~chan, portanto, como essas palavras têm uma razão de ser, têm de ser traduzidas. Mas já me estou a alargar, pois a série deve ter sido traduzida do inglês ou do francês, portanto o erro já deve vir de trás.
Erro nº 2: deram uma série, cujo tema principal é a música clássica, a traduzir a alguém que para além de não perceber patavina do assunto foi preguiçosa na pesquisa, cingindo-se apenas à Wikipédia em português, que já TODA a gente sabe que é 90% preenchida por brasileiros. Naturalmente os termos não vão coincidir e temos incoerências na tradução ao longo da série, como o uso de mais de que uma palavra para o mesmo conceito. Estudei música, já soube em tempos todos os elementos de uma orquestra (tinha de o saber), entretanto já estou muito esquecida, mas de uma coisa me lembro: apesar de ambos os termos estarem correctos no dicionário, em Portugal timbales (os "tambores" gigantes em cobre que costumam ficar na parte de trás de uma orquestra) são timbales e não tímpanos (aliás, se a memória não me falha, tímpano é a pele dos timbales propriamente dita), e o primeiro violino é primeiro violino e não concertino (até ver Nodame nunca tinha ouvido o termo referido a uma orquestra). O primeiro violino é a 2ª mais importante posição numa orquestra, sendo a 1ª ocupada pelo maestro. A palavra concertino faz sentido, mas o termo correcto em Portugal é primeiro violino. E nem me vou aprofundar mais nestas questões musicais, senão até fico mal-disposta... já para não falar em certas "traduções" de títulos de peças musicais... Nunca mais aprendem...
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