12.12.06

CINE-ASIA: Tonari no Totoro

Crítica, para o Cine-Asia, do meu filme preferido de Hayao Miyazaki.



Japão, 1988, 86min

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: Uma família, o pai e as duas filhas, a responsável Satsuki e a introspectiva Mei, mudam-se para uma nova casa no campo que mais parece uma mansão assombrada. A casa é perto de uma árvore centenária que esconde alguns mistérios. A mãe das raparigas está hospitalizada por perto o que as faz sofrer de modos diferentes. Sem notícias da mãe, Mei foge, fazendo com que Satsuki inicie uma extraordinária busca.

Crítica: “O meu vizinho Totoro” é um filme intemporal e para todos, tal é a sua universalidade. É talvez das obras mais fundamentais de Hayao Miyazaki, o filme que marcou o seu reconhecimento no Japão (basta ver a quantidade e variedade de merchandising existente). Mas este filme é muito para além de mero comércio, é um retrato do comportamento e modo de encarar a vida para os japoneses. O primeiro aspecto relevante será talvez a maneira como uma potencial casa assombrada e espíritos sobrenaturais não são uma via disciplinadora para as crianças, mas sim um dado extra, encarado com excitação e naturalidade, é como se viesse com o pacote de mudarem para o campo.

A história é de tal forma equilibrada e abrangedora que conjuga o lado fantástico, mais pitoresco, belo e infantil com uma narrativa que aborda a complexidade da mudança e de encarar a dor e eventual perda de um parente próximo, sem que o espectador dê muito por isso. É nessa subtileza que está a verdadeira magia de Totoro e se revela o génio de Miyazaki. Foi com certeza um filme muito trabalhado e amado por quem o fez.

Como curiosidade foi o próprio Hayao Miyazaki quem escreveu as letras de ambas as canções dos genéricos, com o propósito de serem de fácil entendimento tanto para crianças como adultos. No ocidente, são uma boa maneira para iniciantes à língua japonesa se sentirem preenchidos por as perceberem com facilidade. Isto traz-nos à que é provávelmente a primeira banda-sonora, da colaboração Miyazaki/Joe Hisaishi, que foi um sucesso de popularidade.

De resto este é um filme de pequenos detalhes: a arquitectura de uma casa no campo, as plantas, os animais, uma bolota, andar à boleia numa bicicleta, apanhar uma molha ao voltar da escola, pequenos hábitos do dia-a-dia, relações interpessoais entre crianças e adultos e um elogio à natureza como qualidade de vida e uma mais-valia para os seres humanos que a habitam. É também neste filme onde aparecem pela primeira vez os pequenos seres de fuligem que mais tarde retornam em “Sen To Chihiro no Kamikakushi”.

Desta volta, em vez da abordagem do choque, utilizada tanto em “Nausicaä”, como em “Laputa”, onde personagens lutam para defender a natureza, Miyazaki dá à ecologia uma forma mais ligada aos conceitos do Shitoísmo, ainda muito presentes na cutura japonesa. A árvore gigante é encarada com respeito e admiração, os seres/deuses sobrenaturais fazem parte da natureza e os seres humanos aceitam-nos com naturalidade e, mais uma vez, respeito. Os seres humanos integram-se na paisagem e vivem com e da natureza sem a adulterar em demasia, com propósitos egoístas e desnecessários.

Em contrapartida, através destas duas miúdas, de cerca de 10 e 4 anos, assistimos a um crescimento e aceitação de novas realidades muitas vezes tingidas por dificuldades difíceis de ultrapassar como é ter a mãe doente. Na esperança e preserverança de duas pequenas raparigas, temos a força para continuar a viver o melhor que podemos, apreciando as pequenas coisas do dia-a-dia.

A história é simples e com poucas reviravoltas, o que dá espaço para a apreciação dessa mesma natureza e dos seus habitantes,sejam eles as pessoas da aldeia, os animais domésticos ou selvagens ou seres sobrenaturais. Por isso o filme deixa muito espaço para as viagens mágicas com Totoro e os seus “colegas”, que constituem grande parte da atracção e apreciação deste delicioso filme. Não é um filme contemplativo e muito menos aborrecido, todas as cenas mágicas são isso mesmo, transportam-nos para uma outra realidade que gostariamos que pervalecesse mais tempo.

Há uma pequena piscadela de olho à paixão de Miyazaki por máquinas voadoras, na personagem do miúdo Kanta que brinca frequentemente com um pequeno avião de aeromodelismo. É um filme que nos diz para parar e olhar para as belas coisas em volta, apreciar a vida como ela é, não ambicionando para além das nossas capacidades, atropelando os que nos rodeiam. É um apelo à vida no campo, com as suas dificuldades mas maior qualidade de vida. E, convenhamos, o Totoro amolece o coração mais empedrenido!

Classificação: 9/10

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