28.1.24

Sukeban Deka

Sukeban Deka é mais um anime que teve uma série de falsas partidas comigo. Até parece parvo, pois são apenas 2 OAVs de 45 minutos, não é propriamente uma série que faça sentido ter sido interrompida tantas vezes. A primeira foi no final dos anos 90, em 98 ou 99, ainda em VHS. Tenho ideia de a K7 ser inclusive uma edição oficial, lembro-me da caixa em cartolina com a capa abaixo. Já não me lembro da origem dessa K7, alguém do meu círculo de pessoas que consumia anime na altura a terá arranjado. Lembro-me de ver parte do primeiro episódio, mas não me lembro de o ver até ao fim, e definitivamente não vi o segundo. Terei adormecido?

Depois arranjei os episódios online e mais uma vez comecei a ver o primeiro episódio, mas só me lembro de ver os primeiros 10, 15 minutos. Por algum motivo misterioso não vi o episódio completo e, mais uma vez, nem sequer peguei no segundo.

Capa do VHS americano(?)

Bom, foi desta. Sempre fui fã das sukeban, desde que soube da sua existência, raparigas delinquentes que surgiram nos anos 60 no Japão urbano, com um dress code específico, normalmente com uniforme escolar de marujo, onde as saias de pregas são mais compridas que o habitual, cabelos pintados, emblemas, etc. Podem ver-se a montar ou scooters ou bicicletas chopper e a fumar. Cometiam pequenas transgressões, como fumar, pequenos furtos, etc. Por isso, apesar de não haver muito acesso a média com e sobre as sukeban no Ocidente, sempre quis ver o pouco que havia, como o filme Kamikaze Girls, onde uma das protagonistas é uma sukeban, por oposição a uma lolita. Ou mesmo as Saitama Crimson Scorpions, em Shin-chan.

Saitama Crimson Scorpions & Shin-chan

Mas vamos a Sukeban Deka. Saki Asamiya é uma delinquente juvenil presa num reformatório, que é chantageada para tornar-se numa detective juvenil e investigar uma série de situações problemáticas na sua antiga escola. Ela acaba por combater as irmãs Mizuchi, envolvidas, junto com o pai, numa rede de corrupção. Pelo caminho Saki faz amigos e passa a encarar a sua nova actividade de detective com outros olhos. Os OAVs terminam aqui, mas a manga continua. Já li a manga até ao ponto em que ficou o anime, por isso algumas comparações fazem sentido, até porque há um intervalo de quase 20 anos entre ambas. A manga é, como habitual, mais detalhada e mais séria, mas os pontos-chave são os mesmos, mesmo quando o anime não resiste em ter momentos de nudez e violência sexual gratuitos, muito populares naquela época de Urotsukidojis e afins. No aspecto da violência em geral, nenhum se coíbe de a mostrar, havendo algum sangue e bastantes mortes.
Saki é uma personagem traumatizada, muito rica e valente, na verdade perfeita para o papel de detective juvenil. As irmãs Mizuchi são cada uma mais perversa que a outra, sendo a mais nova uma falsificadora, a do meio líder de um gangue e muito ganaciosa por dinheiro e a mais velha a traidora que aniquila a própria família. As três são associadas a víboras que inclusive usam como armas. Certas situações são tratadas de modo bastante sério, mas no geral é tudo um bocado empolado.

Esteticamente este anime é perfeito, inclui todos os clichés associados à corrupção no Japão, um político rico e corrupto, uma vilã hiperfeminina, com longos cabelos louros, outra com aspecto tradicional japonês, incluindo cabelos negros e hime-cut (franja e cabelo comprido, com o cabelo em redor da franja cortado pelo queixo, corte popular na era Heian), e a terceira com um aspecto moderno, disfarçada de artista, incluindo a clássica boina à francesa. Saki tem cabelo comprido rosa, dando provavelmente início a uma série de protagonistas fortes e maria-rapaz de cabelo rosa, sendo claramente inspiração directa para Utena. Ela usa o clássico serafuku, uniforme de marujo, mas com algumas peças proibidas nas escolas, como a camisola de gola alta vermelha. A sua arma é um iô-iô quitado pela polícia. Os polícias variam entre o também clássico homem de meia-idade enigmático de óculos escuros e o tipo moderno, de cabelos compridos e roupa estilosa, o mais seventies possível.
A animação é bastante boa, normalmente havia um maior investimento nos OAVs e as personagens não contrastam com os cenários, que é uma daquelas coisas que nunca gostei muito nos animes dos anos 80 ou 90. Nos anos 60 ou 70 havia uma preocupação maior de integrar as personagens nos cenários, mesmo quando o resultado não funcionava. O character design é bonitinho, e consegue ser bastante coerente, mantendo as raparigas um aspecto feminino, ao contrário das séries OAV de Ace o Nerae!, mais ou menos da mesma época, onde as raparigas parecem armários, até a Ochoufujin. As cenas de acção são particularmente bem feitas e uma pessoa não se perde na salganhada gráfica. A história é simples mas interessante, sem grandes buracos ou inconsistências e é bom ver o arco de redenção de Saki a desenvolver-se. Há muita coisa mal explicada ou sem explicação de todo, mas lendo a manga é possível preencher essas lacunas.

Gostei bastante destes OAVs, mesmo descartando a nudez gratuita, que são uma adaptação muito consistente e fiel à manga original. Agora sou capaz de ver algumas das adaptações para dorama, há várias, mas depois de tanta gravidade, no ténis, nas idols, nas escolas secundárias, acho que quero um mahou shoujo para limpar o palato! E até acho que sei o que vou ver!




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