16.5.06

~Ayakashi~ Bake Neko


Bake Neko só tem três episódios, mas de resto a política da série manteve-se: os genéricos mudaram seguindo o grafismo da história que também mudou.

Esta história fala de um vendedor de remédios que entra, sem ser convidado, num casamento de uma família de classe alta. A noiva morre imediatamente antes de sair de casa e o vendedor revela-se mais como uma espécie de exorcista ou xamã, cuja missão ali é matar um demónio que assombra a casa e os seus habitantes.

O grafismo é deveras interessante, a paleta de cores parece imediatamente tirada de uma gravura de kabuki de primeira edição, em que as cores mais primárias têm um brilho de novas. Todo o design dos cenários é extremamente barroco e colorido, a arquitectura da casa é tradicional, mas a sua decoração não corresponde à decoração, normalmente sóbria, em que as cores são secundárias, com contrastes fortes de claro-escuro. Aqui não há um painel, porta ou parede que não seja decorado, com motivos de animais, há umas fusuma (portas de correr) ricamente decoradas com dois galos, flores, plantas, etc. Também há uma grande predominância de vermelhos e azuis-esverdeados, sem abandonar, claro, o preto e os dourados. Variadas vezes somos lembrados das cores da cortina de um palco de kabuki, na sua exuberância. Em cima disto tudo, inclusive das personagens, foi aplicada uma textura, semelhante ao papel feito à mão, que reforça mais ainda esta sensação de gravura.

O character design é também muito interessante, principalmente porque não há duas caras parecidas (corrijo, há duas: Tamaki e a noiva, mas faz sentido), e são algo caricaturados. Todos têm caras com feições muito características, o velho tem penca de velho, a noiva (e Tamaki) são as duas belezas da história, a criada tem feições redondas e lábios cheios, um dos homens tem manchas na cara, um outro covinha no queixo, etc., etc. O único que é verdadeiramente diferente é o vendedor de remédios que, apesar de se dizer humano tem orelhas em bico e umas pinturas-tatuagens na cara que lhe dão imediatamente uma ligação ao xamanismo nipónico. É talvez a personagem com o character design de que menos gosto, talvez por ser o menos realista do conjunto, mas continua a fazer sentido, pois deixa-nos sempre na dúvida em relação ao que a personagem verdadeiramente é.

A animação continua sem mácula e a história é bastante interessante, emocionante e um pouco sinistra, pois a maldade dos homens supera a maldade do demónio (Bake Neko=gato-demónio).

Com esta história, termina a série ~Ayakashi~. Foi uma excelente aposta pois as histórias confirmam a grande fama de histórias fantásticas que o Japão tem. O grafismo e realização mudarem com cada história fez com que toda a série tivesse um ar de animação de autor, mais cuidada, trabalhada e personalizada, disfarçada de animação comercial. Esta série é um bom exemplo para mostrar que a animação no Japão não é só Ghost In the Shell ou Akira, que eles têm excelentes profissionais e uma tradição na animação de autor maior ainda!

É no Japão que há um dos mais importantes festivais de animação do mundo, o Festival de Hiroshima, e muitos dos autores, que trabalham na indústria para televisão, quem sabe se para pagar as contas, têm uma rica obra de filmes de autor bem menos conhecida que os seus trabalhos mais comerciais. O maior exemplo disso é o grande Osamu Tezuka, autor da primeira série de animação para televisão, Tetsuwan Atom, Astro Boy, que tem uma enorme filmografia de pequenos e muito bons filmes de autor.

怪~ayakashi~

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