16.6.08

Genji Monogatari

O romance de Genji é considerado o primeiro romance da história da humanidade. Escrito no séc.XI, por uma cortesã, Murasaki Shikibu, foi um livro escrito ao longo de muito tempo em que ela conta, em estilo novela, as aventuras e desventuras amorosas do Príncipe Resplandecente Genji. Recentemente este livro foi traduzido para português (em duas edições) e eu comecei a ler a da editora Êxodus, traduzido, de quatro versões em inglês e espanhol, por Lígia Malheiro. Ainda mal comecei a ler e o livro para além de ter dois volumes é um calhamaço, portanto ver o filme apenas serve para me situar visualmente num universo cujas referências são muito poucas.

A primeira impressão é que, sendo o livro tão longo e estruturado em capítulos mais ou menos independentes, uma adaptação para um filme de cerca de hora e meia há de deixar sempre muita coisa de lado. A meu ver o mais prático seria fazer uma série, mas será que os japoneses querem ser mais uma vez bombardeados com o Genji? E será que, numa época em que séries deste tipo não têm mais que 13 ou 26 episódios, uma série de televisão aguentava mais que 40 ou 50 episódios? É pouco provável, portanto tenho de me contentar com o filme.

À partida o filme não surpreende. Para a época em que foi produzido (1987) até é muito bem feito. É visualmente correcto e rico, o character design está algures entre as ilustrações antigas, o Ukiyo-e e o grafismo mais clássico do anime, a paleta de cores é elegante e adequada à época, portanto satisfaz naquilo que eu buscava, uma referência visual. O ritmo, como também seria de esperar, é lento. A animação é também fluida, com boa qualidade e alguns efeitos interessantes. A música é um excercício interessante de música electrónica com muitos sons tradicionais, ou vice-versa. Não é impressionante mas sublinha bem o filme.

A história já não entusiasma... Como ainda não posso comparar com o livro, apenas dá para perceber que 'tentaram enfiar o Rossio na R. da Betesga' e não conseguiram. A história dá grandes saltos temporais (alguns também existem no livro, mas não tão espaçados), não existem grandes picos emocionais, é apenas uma sucessão dos episódios mais importantes na vida de Genji, antes de partir para o exílio. Até parece que assumem, da parte do espectador, um conhecimento prévio da obra. O delírio final, à la 2001: Odisseia no Espaço é que não vem nada a propósito. Há uma mudança radical de estilo tanto da narrativa (que adquire um lado mais fantasmagórico) como visual, onde tudo deixa de fazer sentido. Como muitas adaptações do género, tentaram deixar as coisas em aberto, mas a solução não foi nada feliz.

Ver este filme esclareceu alguns aspectos da cultura japonesa que muitas vezes transparecem no anime, em concreto Oniisama E... que acabei de ver recentemente. Em Oniisama E... muitas das alunas mais veneradas são chamadas com o sufixo -no kimi, era o modo como as pessoas se tratavam na época de Genji em vez do -sama, -san, etc. dos dias de hoje. O que me leva a outra imagem de Oniisama E... em que Nanako muitas vezes visualiza Kaoru-no kimi como o Príncipe Genji. As minhas afirmações do gosto das japonesas por homens belos e refinados são aqui todas confirmadas, o Príncipe ideal para as japonesas é o Hikaru no Ouji Genji, ou seja o Príncipe Resplandecente Genji, cujas actividades principais eram embelezar-se e conquistar mulheres. Depois há as sakura, as momiji, as hina, etc. etc. etc.

Não existe um site oficial, mas deixo aqui alguns links que encontrei sobre o filme e o livro:
Murasaki Shikibu Genji Monogatari (ANN)
紫式部 源氏物語
Murasaki Shikibu: Japan's First Novelist
The Picture Scroll of the Tale of Genji

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